26/03/2011

Eliane Carneiro, se meu fusca falasse

Conheça a história da coreógrafa que tem o carro mais famoso de Artur Nogueira

Alex Bússulo

Você pode até não conhecer a Eliane Carneiro, mas provavelmente já viu o carro dela pelas ruas da cidade. Imortalizado pela sua cor, dificilmente conseguimos saber se ele é vermelho com manchas brancas ou branco com manchas vermelhas. Eliane Izabel Carneiro, carinhosamente chamada de ‘Tia Elianinha’, nasceu no dia das crianças, 12 de outubro, em um bairro chamado ‘Belenzinho’ em São Paulo. Mudou-se para Engenheiro Coelho quando tinha seis anos de idade. “Meus pais saíram da cidade grande porque os médicos disseram, na época, que eu tinha um problema respiratório e tinha que fugir da poluição”, conta Eliane. Mas, a morada em Engenheiro Coelho durou pouco. “Ficamos por lá apenas três meses, minha mãe não gostou da cidade e quis mudar, daí viemos para esta casa”, conta. Formou-se em Educação Física e há mais de 12 anos está envolvida com a dança. Proprietária e coreógrafa de uma companhia de dança da cidade, Eliane carrega a arte nas costas e leva o nome do município para as redondezas. Hoje, com 36 anos ela planeja o casamento, que acontecerá em julho deste ano. A entrevistada desta semana foi ‘pega’ de surpresa por nossa equipe. Depois de várias tentativas sem sucesso por telefone, fomos até a sua casa na tarde da última quinta-feira, dia 24. Carismática, a coreógrafa saiu com um sorriso no rosto ao nos ver. Convidou-nos a entrar e foi logo avisando: “Só não repare o barulho e a bagunça porque meu pai e meu noivo estão trocando o telhado”, contou. E estavam mesmo, durante toda a conversa na sala, ouvíamos as marteladas que vinham de cima. Em uma entrevista de mais de uma hora, ela falou de sua história, seu caso amoroso com o fusca e de seus planos. Confira.

COMO FOI QUE A MÚSICA ENTROU EM SUA VIDA? Sempre fui moleca, vivia brincando na rua, jogando bola, não dava muita atenção pra música não. Até que em 1998, estava trabalhando como auxiliar de educação na escola Francisco Cardona e a diretora da época, Izete de Fáveri, chegou em mim e pediu para que eu ensaiasse algumas meninas para uma apresentação que ia acontecer na escola. Fiquei assustada porque até então nunca tinha lidado com música, muito menos com dança, mas como a diretora havia me pedido fui em frente. Lembro como se fosse hoje, apresentamos aquela música do Titanic. Foi um sucesso, quando terminamos as mães estavam todas chorando emocionadas. A Izete adorou e disse que deveríamos seguir em frente. Daí em diante não parei mais.

FOI ASSIM QUE NASCEU A COMPANHIA ‘NOVA GERAÇÃO’? Foi sim. Com as meninas do Cardona. Pedimos para a diretora para que pudéssemos utilizar a escola nos finais de semanas e fomos em frente. Começamos com 12 meninas, depois de um mês já estávamos com 27 integrantes.

E A FANFARRA? Foi em 99, montei a fanfarra masculina da escola e levava paralelamente com a dança. Era uma correria. Passava o sábado e o domingo inteirinho na escola. Mas era tudo uma paixão. Eu ensinava e coordenava a garotada, mas não tinha nenhum estudo especializado na área. Tinha muita vontade e essa motivação aumentava a cada dia. Eu sempre me emocionei com cada progresso de meus alunos.

MAS AÍ VOCÊ CURSOU UMA FACULDADE? Sim, no ano de 2000 entrei no curso de Educação Física. O que me ajudou muito. E me deu estrutura para que eu pudesse realizar o que faço hoje, com total profissionalismo. Em 2004, quando conclui o curso, montei a fanfarra feminina e comecei a ensaiar as meninas. Em julho de 2007, demos um grande passo abrindo a Companhia de Dança Eliane Carneiro, que continua até os dias de hoje.

EM TODOS ESSES ANOS O QUE É MAIS DIFÍCIL? Patrocínio. Não tenho apoio dos comércios. Em todos esses anos bancava como podia, com ajuda dos alunos. São poucos os que ajudam, não posso deixar de citar a empresa Web Link, que desde o início da nossa companhia nos ajuda. As pessoas, os comércios, os políticos poderiam ajudar e investir mais nessa ideia.

QUEM PODE SE INSCREVER NA COMPANHIA? Hoje trabalhamos com alunos de sete a 20 anos, meninos e meninas que querem aprender a dançar, a se soltar, a melhorar o comportamento com ajuda da dança, pode vir que temos lugar para todos.

QUANTO CUSTA? Por duas aulas na semana, os alunos pagam R$30 mensais.

TEM ALGUMA COISA QUE MARCOU VOCÊ? Tem duas. A primeira, como já disse, foi àquela apresentação no início no Cardona e a outra foi a primeira vez que apresentamos uma dança de casal, com a música ‘The time of my life’, do filme ‘Dirty Dancing’. Inesquecível.

FOI BOM VOCÊ TER SE LEMBRADO DESTA MÚSICA, POR QUE VOCÊ SEMPRE A APRESENTA? Porque as pessoas pedem! Ela é contagiante. Sempre esteve em nosso repertório. Quando vamos apresentar o povo pede e a gente atende. Mas já faz algum tempo que não a apresentamos. No final deste ano vamos fazer um especial, relembrando todos os sucessos do grupo, ela vai estar por lá, com certeza.

VAMOS MUDAR DE ASSUNTO. VOCÊ TEM O CARRO MAIS FAMOSO DA CIDADE. SEU FUSCA JÁ VIROU SUA MARCA. SE ELE PUDESSE FALAR, O QUE VOCÊ ACHA QUE ELE TE DIRIA? Nossa! Acho que só coisas boas. Afinal, só entraram coisas boas ali dentro. As crianças, os alunos, todo o pessoal gosta muito daquele carro. É o meu xodó [risos].

COMO FOI QUE ELE VEIO PARAR EM SUAS MÃOS? Eu ganhei de presente do meu pai quando tinha 14 anos. O carro era de um vizinho nosso que precisava de dinheiro para comprar uma vaca [risos], aí vendeu para o meu pai. Não consigo me esquecer, fomos buscar o fusquinha, estava todo quebrado, sem motor, sem peças…

ENTÃO, SEU PAI TE DEU A LATARIA DE PRESENTE? [risos] Foi mais ou menos isso mesmo. Trouxemos o carro aqui pra casa e meu pai perguntou se eu havia gostado dele, quando eu disse que sim, ele me deu. Eu só tinha 14 anos! E carro é carro. Minha mãe até zoava comigo, dizendo que meu pai havia dado uma coisa velha que não servia pra nada. Daí ficou parado na garagem por anos. Só fui começar a dirigir ele com 21, quando tirei carta.

TAMBÉM DEPOIS QUE VOCÊ COMEÇOU A DIRIGIR NÃO PAROU MAIS, JÁ DEVE TER TRANSPORTADO DE TUDO NELE. Olha, é por aí mesmo [risos]. Já levei equipamentos, alunos, caixas de som nele. Às vezes paro e me pergunto como é que eu consegui fazer caber tudo num fusquinha.

O QUE JÁ ACONTECEU DE ENGRAÇADO COM O FUSCA? Já aconteceram tantas coisas [risos]. Teve uma vez que eu dei carona para duas alunas e pegou fogo na frente do carro. As meninas saíram gritando [risos]. Graças a Deus nunca foi nada grave, só sustos mesmos. Sem contar das milhares de vezes que o carro morria e as alunas mais velhas tinham que empurrar. No final todos se divertiam. Meu carro era vermelho, hoje está quase branco de tanto as pessoas assinarem seus nomes nele.

JÁ PENSOU EM INSCREVER ELE NAQUELE QUADRO ‘LATA VELHA’ DO PROGRAMA DO LUCIANO HUCK? Eu nunca mandei nenhuma carta, mas o pessoal, meus alunos falam que já escreveram. Não sei o que aconteceria se meu carro fosse pra lá. Todos o conhecem do jeito que ele é hoje, desbotado. Se pintar ele vai perder a graça. O engraçado é que ele só tem dois bancos, o do motorista e o de trás, está faltando um [risos]. Mas quem sabe o Luciano não fica sabendo da minha história e queira dar uma melhorada nele? Seria bom né?…

QUER VENDER ELE PARA MIM? De jeito nenhum! Nem pra você, nem pra ninguém. Como já te disse, ele é o meu xodó. Vou me casar e quero ser levada nele para a igreja.

ENTÃO VAMOS FALAR DO SEU CASAMENTO. É, demorou, mas agora vai sair. Vou casar no dia 23 de julho deste ano, com o cara que está aqui em cima [se referindo ao noivo, que trocava o telhado com o sogro].

COMO FOI QUE VOCÊS SE CONHECERAM? Foi através do meu trabalho, da dança. Ele é primo de uma aluna, a Ariane Bedendo, que chegou em mim e disse: “Tia, tenho um primo que quer te conhecer, que está gostando de você!”. Eu disse que não queria nem saber, nem pensava em namorar na época. Mas ele foi persistente. Começou a rondar a companhia e um dia ele entrou e quis falar comigo. Eu o conheci e acabei me apaixonando. Isso faz três anos.

QUEM É ELE? Ele se chama Geraldo Gotama, é técnico em mecânica. Ele é maravilhoso, me apóia e me incentiva muito. Precisava de alguém que entendesse meu trabalho e ele é 10 nisso.

E A TIA VAI VIRAR MÃE LOGO? [risos] Acho que sim né! Quero construir uma família. Todo mundo aqui de casa vive dizendo que eu vou ter gêmeos. Acredita? [risos].

Finalizamos a entrevista, mas antes de irmos embora, nossa entrevistada fez questão de que assinássemos seu fusca. Assinamos, claro.

[Acima] Eliane com o noivo Geraldo

[Acima] Eliane com os pais Arthur e Maria

[Acima] A coreógrafa fez questão que assinássemos seu fusca

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