03/03/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Adriana Sawinsky

Coordenadora da AJA fala sobre projetos e trabalho na adolescência

“Devemos acreditar e incentivar o potencial de nossos adolescentes” (Adriana Sawinsky)

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Alex Bússulo

A Associação Jovem Aprendiz (AJA) de Artur Nogueira possui uma característica muito importante para o município: a preocupação em qualificar e encaminhar jovens nogueirenses para o Mercado de Trabalho.

Com patrocínio da Petrobrás e apoio da Prefeitura Municipal, a associação já beneficiou mais de 700 jovens com cursos técnicos, que tiveram o objetivo do aperfeiçoamento profissional.

Na entrevista especial da semana, conversamos com Adriana Sawinsky, de 40 anos de idade, que atualmente trabalha como coordenadora da AJA.

Formada em Administração de Empresas e com MBA em Gestão de Projetos e Governança Social, a nogueirense passa todos os dias planejando e preparando projetos sociais que possam beneficiar os adolescentes de Artur Nogueira.

Adriana também participa do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal de Assistência Social, é secretária do Programa Bolsa Família, representante do Programa Viva Leite, diretora na área de Segurança Urbana do Estado de São Paulo, além de ser voluntaria em entidade como a Mais Vida e a Iefan – Vó Nair.

Como surgiu a ideia de criar a AJA? Antigamente, Artur Nogueira possuía duas entidades que se dedicavam a encaminhar jovens para o Mercado de Trabalho. Elas não eram regulares perante a Justiça, pois chegavam a encaminhar até crianças para trabalhar. Na época a Prefeitura Municipal recebeu uma notificação relatando que o município deveria regularizar ou extinguir essas entidades. Foi quando um grupo de moradores se reuniu e decidiu abrir a AJA em 2004.

O que a entidade se diferenciou das outras duas que já existiam no município? A principal diferença foi no quesito regularização, que sempre foi o objetivo do grupo. Desde a fundação da AJA, os membros buscaram sempre regularizar a entidade para que ela pudesse estar apta a participar de projetos sociais. Em 2006, consegui inscrever a AJA no Jovem Aprendiz, um programa a nível nacional da Petrobrás. E nós fomos contemplados. Trinta jovens participaram dos cursos de Caldeiraria e Elétrica, passando pela fase preparatória, especialização no Senai e a prática vivencial na própria Petrobrás, totalizando dois anos de estudos e capacitação.

Como podemos resumir o trabalho da Associação Jovem Aprendiz? Resumidamente, posso dizer que trabalhamos para dar um futuro melhor para os jovens de Artur Nogueira. Com cursos técnicos e facilitando o ingresso em empresas estamos permitindo e proporcionando a chance de tirar a ociosidade da mente dos adolescentes de nosso município. Hoje, a AJA trabalha com professores, coordenadores, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, enfim, fazemos realmente um trabalho de base, de alicerce, para diagnosticar e melhorar a conduta social e profissional dos jovens.

Quem mantém a associação? Temos patrocínio da Petrobrás, que usamos para pagamento dos funcionários, além da subvenção de cinco salários mínimos e pagamento do aluguel da casa onde funciona a AJA pela Prefeitura Municipal de Artur Nogueira.

Nesta semana, 63 alunos da AJA receberam certificados do projeto ‘Jovens de Hoje, Administradores do Amanhã’ [clique e veja as fotos]. Como foi desenvolvido esse projeto? Assim como nos cursos de Caldeiraria e Elétrica, esse programa também teve o patrocínio da Petrobrás. Com o intuito de capacitar para o Mercado de Trabalho, os jovens receberam aulas na área de Administração, envolvendo rotinas administrativas, RH, etc.

Como é feita a seleção dos jovens para os cursos? A partir do momento que temos definido o curso fazemos a divulgação em jornais e nas escolas. Abrimos as vagas para todos, mas sempre damos preferência aos mais necessitados, que nunca teriam, digamos assim, uma oportunidade para fazer um curso técnico. Até hoje, já beneficiamos mais de 700 adolescentes.

Mas o trabalho da AJA vai além da capacitação. Não é mesmo? Sim, após a conclusão do curso, fazemos um trabalho de encaminhamento ao Mercado de Trabalho. Já encaminhamos jovens para várias empresas como Winner, Sueme, Torcida Baby, Teka, entre outras.

A partir de qual idade um adolescente pode começar a trabalhar? Como Jovem Aprendiz, a lei permite que ele trabalhe dos 14 anos até os 23 anos e 11 meses de idade. Até completarem 16 anos, eles podem trabalhar seis horas por dia.

Qual a importância de um trabalho de preparação profissional na vida de um jovem? Eu acredito muito naquela frase que diz que mente vazia é a oficina do Diabo. Jovem que não se ocupa com alguma coisa provavelmente não vai seguir um bom caminho. A AJA é para muitos uma oportunidade única. Tenho certeza de que se não dermos a chance de uma vida melhor, de uma oportunidade de emprego, provavelmente um jovem que poderia ter um futuro promissor vai parar nas ruas e poderá virar um risco à sociedade. A solução para tudo isso se resume em oportunidade. Essa é a resposta para a maioria dos problemas sociais que enfrentamos todos os dias. Teríamos uma sociedade muito mais digna e livre da marginalidade se déssemos mais chances profissionais e educacionais aos nossos jovens.

Como é o Mercado de Trabalho para os jovens de Artur Nogueira? Totalmente escasso. São pouquíssimas empresas em nossa cidade que se preocupam com a questão. Normalmente, elas contratam um menor de forma irregular, sem pagar os direitos trabalhistas, apenas com o intuito de ter mão de obra barata. Isso não é certo. Nós capacitamos os jovens e os apresentamos para as empresas, mas elas não contratam e acabam não cumprindo a lei.

Você diz que as empresas descumprem a legislação. Pode explicar isso melhor? É a Lei da Aprendizagem, que diz que cinco a 15 por cento da quantidade de funcionários de uma empresa devem ser jovens aprendizes. Hoje, em Artur Nogueira, apenas cinco empresas cumprem essa cota. Lembrando que toda contratação deve ser realizada através da AJA, que é a única entidade certificadora do município, qualquer outro tipo de contratação de menores será considerado como irregular.

Você concorda que um adolescente comece a trabalhar aos 14 anos de idade? Para falar a verdade eu acredito que eles poderiam começar antes ainda. Claro, que um trabalho em regime correto, que não explore, nem viole os direitos dos menores, mas algo que incentive para uma sociedade melhor. Uma criança com doze anos já sonha em poder trabalhar, ganhar seu próprio dinheirinho. Isso não é errado. Desde que ela estude e mantenha seus direitos conservados, isso só vai beneficiá-la. Como eu já disse, nossos jovens estão ociosos, precisam de ocupação boa, que agregue conhecimento e profissionalismo.

Hoje, o Ensino Médio propõe aos estudantes aulas de português, matemática e outras disciplinas importantes para a formação. Não seria interessante implantar aulas que promovessem a qualificação profissional? Eu acho que isso já deveria ter acontecido há muito tempo, mas como tudo nessa vida é preciso que apareça um mentor de uma lei lá de cima e crie um projeto assim. Como seria bom se tivéssemos além das disciplinas comuns, aulas de empreendedorismo, administração, conduta profissional, algo que não é complicado, mas que traria um resultado muito bom para a sociedade. Eu sou a favor.

Como você avalia o sistema que lida com os menores em nosso país? Certa vez eu estava na Delegacia de Polícia e presenciei um menor algemado. Cheguei até o policial e perguntei o que o menino havia feito e fui informada que ele tinha sido preso, pois acabava de ter roubado uma caixa de bombons. O policial me informou também que ele seria encaminhado para a Fundação Casa. Pedi para que fosse dada uma nova oportunidade para o jovem e que conseguiria encaixá-lo no programa da Petrobrás. No final das contas consegui tirá-lo daquela situação e hoje sei que pude fazer a diferença na vida de uma pessoa. Tenho certeza de que se ele tivesse sido levado para a Fundação Casa provavelmente estaria pior do que quando entrou.

Por quê? Porque infelizmente é assim que funciona. Nosso sistema penitenciário é uma verdadeira escola de crime. Já pude ver com meus próprios olhos o que acontece lá dentro. É uma situação complicada que deveria ser revista com muita atenção pelos nossos governantes. Acompanhando presos eu pude ver que havia homens planejando com os mínimos detalhes como assaltar uma casa, um veículo. Se o homem entrou ruim na cadeia, ele vai sair péssimo de lá. É uma escola de crime. Nosso sistema não funciona.

Para terminarmos, qual é a solução? É acreditar e incentivar o potencial de nossos adolescentes. Esse é o segredo. Não é um caminho fácil, mas necessário a ser seguido.


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