ENTREVISTA: Ex-prefeito, Atílio Arrivabene, relembra como foi governar Artur Nogueira há 40 anos

“Na minha administração foi feita uma plantação, que deu muitos frutos. Mas os administradores que me sucederam somente usufruíram dessa plantação que veio a secar com o tempo” Atílio Arrivabene Júnior (Neno)

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Alex Bússulo

Nascido e criado em Artur Nogueira, Atílio Arrivabene Júnior, também conhecido como ‘Neno’, foi o mais jovem a governar o município ‘Berço da Amizade’. Em uma eleição realizada no dia 15 de novembro de 1972, ele foi eleito prefeito com apenas 27 anos de idade.

Jovem, trabalhou e construiu importantes obras no município. Mas o que destacou a administração deste nogueirense foi a chegada de importantes indústrias na cidade, como a Algodoeira Caio, Mecânica Oriente, Plásticos Bicolor e a Tecelagem Teka, gerando naquela época mais de 3 mil empregos diretos. Com Ademir Fávero como vice, Atílio revolucionou o pequeno município.

Em 2008, ele tentou retornar ao poder executivo de Artur Nogueira, como vice-prefeito. Mas não conseguiu ser eleito. Depois disso, se mudou com a família para a Bahia, onde vive até hoje. Mas sempre faz questão de passar alguns dias na cidade em que nasceu e viveu por tantos anos. Neste mês de aniversário de emancipação do município, Atílio nos concede uma entrevista exclusiva e relembra como foi governar a cidade há mais de 40 anos. Confira:

O senhor é filho de Atílio Arrivabene, que foi um homem muito importante para a emancipação de Artur Nogueira. Ao lado de outros nogueirenses, seu pai participou do grupo emancipacionista em 1948. Qual foi o maior ensinamento que ele lhe deixou? Alex, meu pai foi um homem simples, trabalhador, que tinha uma satisfação muito grande em atender quem quer que seja, que necessitasse de alguma coisa dele. Se alguém lhe solicitasse alguma coisa, pode ter certeza que não mediria esforços para atender, à qualquer hora do dia ou da noite. As lembranças que guardo do meu pai são as melhores que um filho possa ter, um homem disciplinado, que tratava os filhos com energia, que exigia respeito dos filhos para com ele. Se fosse nos dias de hoje, poderia se dizer que era um tratamento muito duro, mas foi desta maneira que ele nos criou e, hoje, eu lhe agradeço por ter me criado assim. Se cheguei onde cheguei com respeito a todos cidadãos, foi graças a educação que ele me deu. Alex, você disse que meu pai foi muito importante para a nossa cidade, com o que eu concordo plenamente, mas eu lhe digo, que para mim, ele foi muito mais importante, porque me criou com disciplina, rigidez e o maior ensinamento que ele me deixou foi, sem sombra de dúvida, ser honesto.

Na infância, o senhor chegou a trabalhar como engraxate. Como foi isso? Minha família nunca foi rica. Meu pai, como eu disse anteriormente, era trabalhador, mas o que ganhava, sustentava a família, mas não sobrava para nos dar uma vida de regalias, muito pelo contrário. E, eu desde pequeno, já queria ter o meu dinheiro para gastar, com cinema, refrigerantes. Diante disso, eu engraxava sapatos, colhia algodão, mas só para ganhar alguns trocados, nada mais que isso, pois meu pai me sustentava. Com 12 anos de idade comecei no meu primeiro emprego como faxineiro de um escritório de contabilidade, para poder ajudar nas despesas da casa também.

Foi assim que descobriu a paixão pela Contabilidade? Começando a trabalhar num escritório de contabilidade, eu notei que tinha uma grande facilidade em aprender o serviço. Naquela época não tinha escola de comércio em Artur Nogueira, então foi a única maneira de aprender Contabilidade, até o dia em que foi instalado o Colégio Comercial Nossa Senhora das Dores e eu tive oportunidade de estudar realmente.

Por que decidiu estudar Pedagogia? O curso de Pedagogia foi uma história até que engraçada. Eu levei a minha esposa para fazer vestibular, pois ela é professora, e chegando lá, resolvi fazer o vestibular também. Acabei me formando em Pedagogia. Cheguei a dar aula por um período, no Ginásio Estadual Paulo de Almeida Nogueira, em Cosmópolis, e no Colégio Comercial Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira. Isto foi no ano letivo de 1972.

O que motivou o senhor a entrar na política? Alex, o motivo é uma história de vida, nasci e me criei na cidade de Artur Nogueira. Desde criança acompanhava as administrações municipais, acompanhava o que acontecia no clube, enfim, eu participava em tudo que acontecia na cidade. Certa ocasião, eu e um grupo de jovens, começamos a achar que o Clube Recreativo Floresta estava sendo mal administrado, estava faltando diversão para a mocidade. Diante disso demos início a fundação de uma associação cujo nome seria “Uirapuru”. Chegamos a fazer uma Festa do Chopp, que foi um sucesso na época. Depois da realização deste evento, os diretores do Floresta perceberam que nós não estávamos para brincadeira e daí nos convidaram para assumir o clube. Foi quando deixamos de fundar a associação. Havia uma questão maior que era o executivo municipal. Na nossa opinião, também deixava a desejar. Tínhamos certeza que tomando conta do executivo municipal, tiraríamos o município do anacronismo socioeconômico em que ele se encontrava.

Em 1972, o senhor foi eleito o sétimo prefeito de Artur Nogueira. Mas a campanha foi um pouco diferente. O que aconteceu naquele ano? Alex, o que aconteceu, na minha opinião, foi que os mandatários da época não queriam que eu fosse candidato, porque diziam que eu era criança, um moleque, para participar de coisa de adulto. Na convenção do partido, eles barrariam a minha candidatura, mas eu consegui legenda e, com isso, a candidatura. Agora teriam que disputar as eleições com um bando de moleques e o candidato da situação percebeu que poderia perder a eleição para a molecada e retirou a sua candidatura. Eu disputei com os votos brancos. E ganhei.

O senhor sucedeu Jacob Stein. Como foi um jovem de 27 anos de idade assumir a administração pública de uma cidade principalmente em uma sociedade, digamos um tanto conservadora na época? Pelo fato de eu ter sido eleito podemos afirmar que a sociedade não era conservadora. Além disso, apesar da minha pouca idade, eu mantinha amizades com muitas pessoas com mais experiência, mais idade. Confesso que eu tinha o receio de não ser admitido pelos mais experientes, mas foi a realidade foi o contrário. Tive apoio muito grande da velha guarda, a ponto deles me procurarem para me apoiar e lutar para que eu fosse eleito.

Qual era a principal reivindicação da população quando o senhor assumiu a Prefeitura? Quando eu me propus a ser candidato sabia todos os problemas que queria resolver, não existia uma maior reivindicação, Artur Nogueira tinha vários problemas básicos de infraestrutura que precisavam ser resolvidos. Não tínhamos um médico residente no município, a energia elétrica era de péssima qualidade, não podia chover que o sistema caia, e com isso mais uma procissão de vela. O serviço telefônico também era péssimo, naquela época o nosso telefone funcionava com DDD. Tínhamos que pedir uma ligação interurbana, que poderia levar dias. Também enfrentávamos um enorme problema de falta de emprego.

O que marcou o seu governo? Foram as soluções dos problemas acima, pois consegui sanar todos, colocando o município na condição de progredir, além de construir o prédio da Prefeitura, o Grupo Escolar Francisco Cardona, a Praça Laudo Natel, aproximadamente 80% do Balneário Municipal, asfaltamento a preços acessíveis para a população, entre outras obras.

Inauguração da Clinica do Dr. Décio

Seu governo também foi marcado com a instalação de grandes indústrias no município, como foi o processo para trazer essas empresas para Artur Nogueira? Alex, nada cai do céu e nada acontece por acaso, é preciso batalhar para que algo aconteça, além de contar com um pouco de sorte. Na época mantive contato com diversas empresas com o intuito de traze-las para a nossa cidade, pois além da Algodoeira Caio, Mecânica Oriente, Plásticos Bicolor, Teka Tecelagem Kuehnrich, era para ter vindo a Loctite, fabricante da cola Super Bonder.

Qual foi a importância dessas empresas naquela época para os nogueirenses? Para os nogueirenses foi a redenção, pois havia empregos para todos com ótima remuneração. Nem havia tantos nogueirenses para suprir a quantidade de empregos oferecidos. Para o município foi a mola propulsora para sair do anacronismo socioeconômico, que vinha mantendo por longos anos.

Quem foi o melhor prefeito que já administrou Artur Nogueira? Para mim o melhor prefeito que administrou esta cidade foi o nosso saudoso Severino Tagliari, nosso primeiro prefeito. Isto porque todo início é difícil. Ele, com a equipe que tinha, deu os primeiros passos na nossa administração municipal.

Por que o senhor decidiu se mudar de Artur Nogueira? Meu genro, marido da minha filha Andrea, foi admitido para trabalhar numa empresa cujo endereço de trabalho é no estado da Bahia. Minha filha estava com medo de se mudar para um lugar estranho e ainda com duas crianças e pediu para que eu e minha esposa nos mudássemos também. Diante de tal situação resolvemos nos mudar. Moramos hoje na cidade de Lauro de Freitas, grande Salvador, cujas praias são as mais belas do nordeste.

Em 2008, o senhor foi candidato à vice-prefeito de Artur Nogueira, mas perdeu a eleição. Por que quis voltar ao poder executivo municipal? Para quem conhece o nosso município é fácil de responder a essa pergunta. Quando fui prefeito, na minha administração, foi feito uma plantação, que deu muitos frutos para Artur Nogueira, mas os administradores que me sucederam somente usufruíram desta plantação colhendo os seus frutos e nada fazendo para manter esta plantação. Não cuidaram dela, não fizeram nenhum replantio e a mesma veio com o passar do tempo a secar. O regresso do nosso município foi visível. Somente agora com o atual prefeito ela está voltando ao seu lugar.

Como foi a experiência na campanha de 2008? Devo confessar que fiquei deveras decepcionado com o decorrer da campanha. Com o modo de proceder dos adversários. Uma campanha feita por eles de baixo calão e calúnias, com o intuito de ganhar uma eleição, que deixa todo participante estarrecido. Confesso que perder a eleição, à princípio, foi desagradável, pois foi mais uma administração que nada fez para a nossa cidade, mas agora com o atual prefeito, tudo que estava sendo perdido tenho certeza que ele vai recuperar e a nossa cidade voltará a progredir.

O senhor tem pretensões politicas em Artur Nogueira? Alex, confesso que não tenho mais pretensão, porque a nossa cidade atualmente está em boas mãos e espero que continue por mais uns longos anos, pois eu sempre quis uma boa administração para Artur Nogueira.