24/05/2014

ENTREVISTA: Ambé fala sobre Agricultura e a luta que enfrenta contra um câncer

Secretário de Agricultura de Artur Nogueira fala sobre as principais plantações do município, dificuldades no setor e a luta pessoal contra uma doença descoberta há 2 anos

Ambé 
“Mesmo após a crise nacional, a laranja ainda continua sendo uma das principais produções agrícolas de Artur Nogueira” (Ambé)

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Alex Bússulo

Nascido em Artur Nogueira há 57 anos, Nivacir Franco de Oliveira, o popular ‘Ambé’, sempre foi um homem ativo e participante de entidades e comunidades do município. Foi presidente do Clube Recreativo Floresta, ficando na diretoria por 27 anos, presidente da Apae, também na diretoria por décadas, presidente do Clube dos Veteranos, entre muitas outras associações.

Agora, ele responde pela Secretaria Municipal de Agricultura de Artur Nogueira. Criada no início do ano passado, o novo setor é responsável por criar políticas públicas voltadas para os agricultores e pecuaristas nogueirenses. Também é o responsável pela coordenação da tradicional Feira Livre, que atrai milhares de pessoas todos os domingos no município, além de organizar o programa Agricultura Familiar, que atende mais de 300 famílias.

Na entrevista desta semana, Ambé fala sobre os principais desafios da Secretaria Municipal, a produção agrícola de Artur Nogueira e também sobre a luta que vive contra um câncer, descoberto há 2 anos. Confira:

Qual é o maior desafio da Secretaria Municipal de Agricultura? Nosso desafio é promover o desenvolvimento da Agricultura do município, integrando o setor rural no planejamento dos diferentes setores públicos, tais como Segurança, Educação, Meio Ambiente e Saúde. Assim, traçamos diretrizes que transcendem ações técnicas de produção, conforme pode ser consultado no Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, que estará disponibilizado nos portais da Prefeitura Municipal e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).

Quais são as principais produções agrícolas de Artur Nogueira? Hoje, o que mais se produz em nosso município são a laranja, cana-de-açúcar, mandioca, milho, ornamentais de vaso e corte, além de hortaliças.

Um sítio no bairro São Bento se destaca no estado pela produção de caju e pitaia. Um verdadeiro exemplo de que nossos agricultores podem alcançar o sucesso investindo em outras plantações. Como incentivar que nossos produtores rurais invistam em produtos diferentes em nossa região? Artur Nogueira está localizada em uma região privilegiada. Os solos são férteis e não há restrições climáticas. Diferentes culturas podem ser exploradas. O sítio citado representa um exemplo de empreendedorismo e profissionalização da atividade agrícola. Investimos no programa de assistência técnica e extensão rural, através do qual, em parceria com as diferentes instituições que atendem o público rural, promovemos a oportunidade para capacitação do agricultor. O desenvolvimento de programas de aquisição de alimentos, como o PNAE, também objetiva orientar o agricultor na retomada do processo de comercialização de seus produtos e sua aproximação com o consumidor final.  A cada ano que passa, conseguimos contratar maior número de produtos. Para cultivar outras culturas, o agricultor precisa conhecer o zoneamento climático do estado para a região onde estamos localizados. Culturas potenciais para a região estão sendo divulgadas em dias de campo e distribuição de mudas, tais como abacaxi e uva.

Nos últimos anos, muitos citricultores arrancaram os pés de laranja e passaram a cultivar outras culturas, devido à crise que abalou todo o setor no país. Como o senhor vê a produção de laranja, que ainda é forte no município, para os próximos anos? É bom destacarmos que mesmo com a crise que atingiu produtores em todo o Brasil, a laranja ainda é uma das principais produções agrícolas em Artur Nogueira. Embora ela venha perdendo muito espaço para a cana-de-açúcar, onde muitos citricultores optaram por arrendar suas terras. Hoje, uma caixa de laranja pode ser vendida por R$ 7 para suco. No entanto, vejo alguns citricultores que preferem ele mesmo vender o produto quase que direto para o consumidor, chegando a faturar até R$ 25 a caixa. É lógico que é muito mais difícil e trabalhoso. Mas tem gente que planta, colhe, embala e vai com o caminhão daqui até São Paulo, Campinas, e fatura isso. Vejo um futuro bom para a laranja. Atualmente, a laranja voltou a ter um bom preço e tem muitos agricultores em Artur Nogueira que estão plantando ela novamente.

Ambé

A estiagem castigou fortemente vários agricultores de Artur Nogueira, que perderam plantações inteiras devido à falta de chuva. Existe alguma forma de prever e evitar essa situação? Como o agricultor deve lidar com a estiagem? Não há como interferir diretamente nos fatores climáticos, mas dá para investir na orientação e capacitação dos agricultores para ampliar a adoção de práticas vegetativas e mecânicas de conservação de solo. A adoção destas práticas de conservação, ao longo do tempo, propicia maior infiltração das águas e minimiza os efeitos da estiagem, caso ocorra.

Como é a produção orgânica em Artur Nogueira? São poucos os agricultores certificados. Incentivamos a produção orgânica através de treinamento de interessados na transição agroecológica. No dia 27 de junho estaremos fazendo uma oficina teórica e prática sobre a prática de compostagem, em parceria com a CATI. A compra governamental também incentiva a produção orgânica pela melhor remuneração dos produtos, pagando até 30% a mais em relação ao produto convencional.

Quais as vantagens e desvantagens de produções em estufas? Nem todas as espécies cultivadas exigem o cultivo em estufas. É necessário que a agricultor realize um estudo técnico de mercado e de produção para decidir sobre sua implantação na propriedade, que requer alto investimento em infraestrutura. As principais vantagens são o maior controle dos fatores climáticos e maior facilidade no controle de pragas e doenças. Quanto às desvantagens podemos citar o elevado custo de implantação e manutenção, além da exigência de mão de obra mais especializada.

Como funciona o programa Agricultura Familiar? Entende-se por agricultor familiar aquele que explora área de até 40 hectares ou 16,5 alqueires, com mão de obra predominantemente familiar e que tenha na atividade agrícola sua principal fonte de renda. Há estimativa de aproximadamente 300 agricultores nogueirenses nesta classificação. Diferentes políticas públicas beneficiam este segmento de agricultores. Um terço são atendidos nas políticas de acesso ao crédito, dez por cento nas políticas de aquisição de alimentos. Temos a responsabilidade de divulgar os programas existentes e garantir a participação do maior número de agricultores beneficiários, com transparência e sem distorções.

Ambé

Qual a importância da Feira Livre para Artur Nogueira? A Feira Livre de Artur Nogueira é referência na região. Fortalece o comércio local, já que a grande maioria dos feirantes é do município. Garante ainda, a comercialização direta pelo agricultor. Sem falar ainda que ela é um dos pontos turísticos mais fortes de Artur Nogueira, pois atrai todos os domingos mais de 5 mil pessoas, incluindo muitas de nossa região.

Quais as dificuldades de se implantar uma política voltada para o homem do campo em Artur Nogueira? Retomar a motivação do agricultor frente à descapitalização resultante da crise observada na cultura da laranja nos últimos anos, que o deixou sem recursos para novos investimentos e refém da pressão imobiliária ou arrendamento de suas terras.

O senhor é o primeiro secretário de Agricultura de Artur Nogueira, assumindo um grande desafio, pois o setor ainda é um dos grandes movimentadores da economia municipal. Como o senhor chegou à pasta e como avalia seu trabalho em pouco mais de um ano? Como você mesmo disse, a Agricultura é muito importante para o município de Artur Nogueira. Nasci e sou criado neste município. Minha família construiu a vida na agricultura nogueirense. Sei de perto as dificuldades e carências que um agricultor passa todos os dias. Quando recebi o convite do prefeito Celso Capato, senti uma grande responsabilidade, mas com a ajuda dele, sabendo que ele tem muita visão e projetos para o setor, aceitei o convite. Depois que assumi a Secretaria visitei muitos sítios aqui de nosso município. Conversei com vários agricultores que compartilharam comigo suas dificuldades. A missão não é fácil. No entanto com a união do poder executivo, legislativo e, principalmente, dos nossos agricultores tenho certeza e muita fé em Deus que nossa agricultura vai prosperar.

Muito bem, Ambé. Agora, gostaria de lhe fazer uma pergunta pessoal. Há alguns anos, o senhor descobriu que estava com câncer de pulmão. Como foi essa descoberta? Descobri que tinha essa doença em março de 2012. Foi por acaso. Tive uma gripe forte, com pneumonia, onde tive que ficar internado por alguns dias. O médico solicitou um raio x e identificou que eu estava com uma mancha no pulmão. Depois fiz uma biopsia onde foi constatado que eu estava com câncer no pulmão direito. Nunca senti dores, se não fosse aquela pneumonia eu jamais teria descoberto. Depois disso comecei uma bateria de tratamentos. Fiz várias sessões de quimioterapia e radioterapia. O médico disse que meu nódulo está se ‘desfarelando’. O que é ótimo. Eu não tenho medo desta doença. É uma cruz que eu estou carregando. É uma luta. Nunca baixei a cabeça, afinal eu sou mais forte do que essa doença.

Ambé

O que te dá essa força? Acredito que seja primeiramente Deus e depois as pessoas que estão ao meu redor. A força que sinto dos meus amigos e da minha família é incrível. Independentemente de religião, pois creio que o nosso Deus é um só, sou constantemente citado em grupos de orações. A cada dia que acordo sinto essa força, que me dá ânimo para lutar, trabalhar e viver. Aproveito para agradecer a todos que oram por mim.

A doença não prejudica seu desempenho como secretário municipal? De forma alguma. Eu adoro trabalhar e confesso que em muitas situações eu me esqueço da doença. Todos os dias participo de várias reuniões, converso com agricultores, visito propriedades rurais. Na semana passada participei o dia todo de um congresso nacional de alimentação escolar em São Carlos. Recentemente levamos 50 nogueirenses para a Agrishow, em Ribeirão Preto. Todos os domingos estou na Feira de Livre, acompanhando o trabalho de nossos feirantes. Quem conhece e acompanha o meu trabalho sabe o quanto me dedico. É aquilo que te disse, quando a gente confia em Deus ele nos dá uma força incrível. Esse é o poder da fé.


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