17/09/2017

Empresário conta história da loja de games mais tradicional de Artur Nogueira

Celso Gallinari comenta desafios do mercado, vantagens do Playstation 4 sobre o Xbox One e relembra os fliperamas do Bar do Laurão, onde sua paixão por games começou

Alysson Huf

Apaixonado por motos e Fifa, Celso Gallinari foi um dos pioneiros do mercado de games em Artur Nogueira. Lá atrás, em 1996, quando poucos viam o potencial dos jogos eletrônicos, ele abriu a primeira loja do ramo na cidade: a Fantasy Games, que hoje possui mais duas unidades, em Limeira (SP) e Conchal (SP). E em 21 anos, viu o mundo dos videogames passar por muitas transformações.

Em conversa com o Portal Nogueirense, Gallinari falou sobre o mercado de games em Artur Nogueira e como enfrentou a crise financeira que atinge o país. Além disso, ele relembrou o Bar do Laurão, que era o point da garotada que queria jogar fliperama há mais de 20 anos atrás, e comentou as vantagens do Playstation 4 sobre o Xbox One.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Como você conheceu o mundo dos games e se interessou por eles? Em 1989, o pai do meu ex-cunhado montou a primeira loja de games em Campinas (SP). Chamava-se Big Boy Games, e existe até hoje. Então esse senhor montou uma casa lá na cidade e teve a ideia de explorar o jogo por hora. Antes você jogava o fliperama. Mas ele pensou diferente, resolveu colocar o videogame na loja e cobrar para o cliente jogar uma hora no console. Ele trocava o cartucho e o pessoal jogava. Então ele foi o cara que começou isso aí. Depois disso, em 1992, o filhe dele, meu ex-cunhado, montou uma loja de games em Cosmópolis (SP), onde teve início a Fantasy Games. Em 1996, então, eu montei a loja em Artur Nogueira. Eu trabalhava para eles, em Cosmópolis (SP), e morava aqui na cidade. Daí terminei o ensino médio e prestei vestibular para Administração e Direito. Passei nos dois e montei a loja. Meu ex-cunhado me deu muita força nesse começo, tenho muita gratidão a ele por isso. E eu vinha do sítio, na bicicleta, para trabalhar na loja. Em 1998 eu consegui ganhar um bom dinheiro após estocar alguns dólares. A moeda deu um estouro na época e consegui lucrar bastante. Consegui até comprar um Monza na época.

E a sua relação pessoal com os jogos? Você jogava muito quando era criança? Sim, sempre joguei. Eu era muito fanático por videogame. Na minha época tinha o Atari. Eu saía do sítio para ir na casa do meu primo, que tinha um Atari. Esse era o videogame da época. Então eu era aficionado. Fliperama, então… quem conheceu o Bar do Laurão, que tinha os fliperamas… aquilo foi um ícone para as pessoas da minha idade. Todo mundo saía no final de semana e ia no Bar do Laurão jogar fliperama. Era o point da cidade. Então eu jogava muito naquela época e, por conta disso, decidi abrir a loja. E graças a Deus deu muito certo. Hoje tenho mais lojas, três no total. Era para eu ter cinco lojas; como eu e meu irmão terminamos uma sociedade, ele ficou com duas unidades, e eu, três.

E como foi o começo do seu negócio? Você achou que daria tão certo? Olha, no meu primeiro ano, principalmente, eu explorei bastante esse negócio de montar cabines para o pessoal jogar por hora. O pessoal pegou firme nisso e foi muito bom para mim. Então eu logo vi que o negócio ia virar em Artur Nogueira. Foi bem legal. Nessa época, a gente alugava fita de Super Nintendo. Alugava. Hoje isso quase não existe mais. Mas tem muita gente que era cliente da loja naquele tempo e que traz os filhos hoje para comprar aqui. E eles sempre relembram essa época, comentam sobre quando alugavam as fitas. É bem legal. Então eu acreditei no negócio. Decidi não estudar, nem comecei a faculdade, e foquei na loja. No início, minha vó me emprestou R$ 350 para investir na loja, o que me deu muita força. Na verdade, não sei se me emprestou ou me deu, porque eu ainda não a paguei e ela está viva até hoje (risos). Então comecei com um capital minúsculo e uma ideia forte. Daí foi trabalhar bastante. Hoje meus filhos me ajudam, minha mulher me ajuda, temos mais lojas.

Quais os principais desafios para manter uma loja de games? Nesse momento, o e-commerce é uma ferramenta muito forte. Então as lojas físicas precisam ter um ótimo atendimento. E Artur Nogueira é muito precária nessa parte. Ou o Brasil, em geral, não sei. Mas, estatisticamente, Artur Nogueira tem um mau atendimento. Então, se o cara tem a praticidade de fazer uma compra pelo computador e tiver um mau atendimento na loja, claro que o e-commerce vai ganhar. A diferença então está em você atender muito bem o cliente. Eu tenho muitos amigos e clientes desde aquela época e que continuam a vir aqui. Nos primeiros anos é difícil, lógico, mas tem que saber superar isso.

E a crise, afetou muito vocês? Foi complicado. O videogame é uma coisa supérflua que você deixa de consumir em tempos de crise. É algo que você pode parar de consumir sem problema. Então fomos bem afetados com isso. Mas também temos a classe dos pais de crianças pequenas, que, você sabe, a criança pede e o pai não tem como negar. E tem caso de mães que você vê que são bem pobres e vêm aqui comprar um videogame porque o filho diz estar doente querendo jogar. Então ainda tem esse consumo, mesmo na crise. E não é algo muito caro. O equipamento é mais caro, mas manter isso, comprando joguinhos, é mais barato.

E as mudanças dos videogames, evolução de consoles, adaptações tecnológicas… é muito difícil acompanhar isso na loja? Não, é algo tranquilo. O videogame possuía uma vida útil de 10 anos antigamente. Não é igual a um celular, que ganha um modelo novo a cada seis meses. Então o console segura bastante. O Playstation (PS) 4, por exemplo, já está há três anos no mercado e a ideia é ficar muito mais. Não tem nenhum projeto sobre um PS 5 ainda. Então os jogos trabalham em cima dessa margem. Agora mesmo lançou o Pro Evolution Soccer 2018, e todo mundo estava esperando. Então quando a máquina é aprimorada, o mercado de jogos trabalha em cima dela por vários anos. Para quem compra isso também é interessante. Você investe em um e sabe que ele vai durar vários anos. A vida útil deles diminuiu para cerca de oito anos, mas ainda assim é um bom tempo.

Você acha que o pessoal em Artur Nogueira joga muito videogame? Sim, jogam bastante. Mas acho que em todo lugar tem um público cativo. No Brasil, o game tem o problema de sofrer com uma tributação muito alta. Então existe jogo de PS que custa R$ 30 e tem os que custam R$ 230. Daí o investimento do público vai depender muito do orçamento de cada um. É um pouco complicado, mas os amantes dos jogos estão sempre comprando e não querem saber de valor, não.

E você, joga muito até hoje? Eu não tenho tempo para nada. A gente, que mexe muito com isso, acaba enjoando, sabe? E eu faço a área técnica ainda. Presto assistência técnica há 20 anos. E em qualquer console, até os antigos. Hoje eu diminuí o ritmo, mas, por exemplo, eu faço toda essa parte de assistência técnica para pessoal que tem loja na Bahia. Eles mandam para mim, eu conserto e mando de volta. Eu também faço outra coisa legal. Digamos que você tenha um Xbox 360, que você comprou em 2006, quando foi lançado. Agora você quer um Xbox One ou PS 4. O que que eu faço? Eu pego seu videogame de entrada. Essa semana mesmo fizemos muito negócio desse tipo. A gente pega o videogame como forma de pagamento. Eu pego, então, essas máquinas usadas, faço toda a revisão e revendo. Daí, se você não tiver grana para comprar um PS 4 de R$ 1.500, pode ter R$ 600 para comprar o Xbox 360. Para quem nunca teve esse console, ele é um lançamento. Ou uma criança que não tem condições e consegue esse Xbox, para ele é uma grande game. E a máquina é com garantia. É diferente de você comprar o console de um amigo e ela estourar na sua mão. Aqui não. Eu vendo o console revisado e com garantia para o cliente não ter dor de cabeça.

E o que você mais vende na loja? Olha, hoje o PS 4 é o que mais está saindo. Isso porque o Xbox One é uma máquina muito boa, mas requer muita internet. Você precisa ter uns 4Mb livres só para ele. Ele tem umas atualizações muito pesadas e um sistema antipirataria que faz varreduras constantes e consome muita rede. Eu já tive que esperar um game atualizar durante três dias. Então não é todo mundo que tem internet para isso.

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