10/10/2014

Eles venceram o câncer em Artur Nogueira

OUTUBRO ROSA: Conheça a história de três nogueirenses que superaram o câncer de mama

Por Isadora Stentzler

Amenaide Ribeiro dos Santos de Souza

Cancer de Mama

Junho de 2011. Os cabelos começaram a cair. Os fios que antes cobriam as costas se desvencilhavam da cabeça pouco a pouco. Sinais da quimioterapia começada em março. “Mas isso é preciso”, repetia para si afim de juntar forças. Frente ao espelho, acompanhava com as mãos o comprimento do cabelo. Era tão lindo. Preto e longo com algumas ondas. Combinava com seu rosto moreno. Uma pena ficarem agora apenas nas mãos, emaranhados nos dedos que sempre os tocavam. “Mas são apenas cabelos. Eu preciso ficar melhor.”

Amenaide Ribeiro dos Santos de Souza tem hoje 46 anos. No entanto, em novembro de 2010, não deram a ela mais que seis meses de vida. É que Amenaide estava com câncer de mama. “Eu estava tomando banho e fazendo o autoexame e percebi que havia um nódulo na mama direita”, relembra Amenaide como a luta começou. “Então procurei um médico”.

Sentada no sofá de casa, ela detalha a reação ao saber do diagnóstico:

“Na hora o chão parece que se abre e aí vem o desespero, vem tudo. Então você fica meio que sem chão. Naquele dia cheguei em casa e comecei a chorar e falei para a minha filha: ‘Filha, acho que a mãe vai morrer’. Então contei a história para ela e ela me disse: ‘Mãe, você não vai morrer. Pode ficar tranquila, você não vai morrer’. Então eu procurei um mastologista e ele disse que era um câncer de mama agressivo e que já estava em um estágio bem avançado. Ele falou: “olha, a gente não vai poder fazer uma cirurgia de imediato, teremos que começar primeiro com a quimioterapia.”

O papel da quimioterapia é eliminar as células cancerígenas que formam o tumor. Porém, os medicamentos utilizados nesse tratamento não são capazes de diferenciar as células malignas das células normais e por isso o tratamento atinge tanto as células sadias quanto as tumorosas. Esse processo debilita o paciente que fica com a imunidade baixa e é atingido por alguns efeitos colaterais.

É normal durante os meses de tratamento o paciente sentir ardores no corpo, formigamento, lesões na boca, dores musculares, insônia, mudanças no sistema nervoso, náuseas, vômitos, constipação, diarreia e a comum queda de cabelo.

“Mas para mim não foi difícil perder o cabelo. Tanto é que chegou uma hora que resolvi passar a maquininha. O cabelo não me importava, eu só queria ficar melhor. Na época meu filho estava com seis anos e eu não poderia abandoná-lo”. As sessões de quimioterapia em Amenaide começaram em março de 2011 e ocorriam a cada 21 dias. Segundo ela, o médico chegou a dizer que a medicina é capaz de curar o câncer, hoje, mas que dependeria 50% do paciente e 50% da ciência. “Então eu disse que tinha 100% de chances de ser curada, porque eu queria viver”, conta Amenaide sobre a esperança que alimentava.

Em agosto de 2010, Amenaide foi submetida à cirurgia que retiraria o tumor. Na operação, também foram extraídos os 13 linfonodos da axila para evitar que eles chegassem às mamas e agravassem a situação. Foram cinco horas de processo cirúrgico, mas de lá, Amenaide saiu nova. No lugar da mama, uma prótese foi colocada.

Após a recuperação, o cabelo voltou a crescer e as dores da quimioterapia deixaram de existir. Mas Amenaide entendeu que aquilo que passara viera por um motivo: poder ajudar a outros. Hoje, ela participa do Movimento Campinas Rosa, que luta contra o câncer de mama. Em Artur Nogueira, ela também já deu palestras e deixou sua história como testemunho.

Cancer de Mama

“Eu digo que a vida às vezes nos dá um limão. Mas é a gente que escolhe se faremos uma limonada com ele ou se o comeremos azedo. A opção está nas nossas mãos. E com o câncer é a mesma coisa também. A gente tem que pensar positivo. Hoje o câncer de mama tem cura. Mas você tem que lutar. Não é fácil. A pior parte é a quimio. Mas você tem que lutar”.

Além das palestras Amenaide costuma entrar em contato com pessoas que tiveram o câncer ou que ainda lutam contra ele. Uma delas foi a sua sobrinha, Claudia Eliane Gabriel Santos,de 35 anos, que descobriu o câncer de mama há três meses.

Claudia Eliane Gabriel Santos

Cancer de Mama

“Percebi um nódulo na mama direita entre dezembro do ano passado e janeiro desse ano. Aí marquei alguns exames, fiz ultrassom e no dia 2 de julho descobri que estava com câncer.”

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é relativamente raro o aparecimento de câncer de mama antes dos 35 anos. Mas acima desta idade todas as pessoas entram na categoria de risco. Ainda mais quando alguém da família já teve – como no caso de Cláudia em que a tia e avó passaram pela moléstia. Hoje o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, com 22% de novos casos a cada ano.

Quando Claudia descobriu, estava sozinha, em Campinas. “Eu fui na Unicamp para saber os resultados dos meus exames de ultrassom, e fui achando que estaria tudo bem, porque a princípio se tratava de algo benigno. Mas quando recebi a notícia fiquei abatida. Foi muito difícil. Um grande impacto.  É como se eu tivesse perdido o chão.”

Depois de conversar com os médicos, Cláudia saiu abatida e esperava o marido para ir para casa. Então ele recebeu uma ligação: era da Unicamp. “Eles ligaram para o celular do meu marido dizendo que havia uma vaga para eu operar no outro dia”, conta.

Apesar da notícia do câncer ser ruim, saber que o nódulo poderia ser retirado no dia seguinte deu esperanças à Cláudia.

Na mesma noite ela foi internada, mas uma grande tristeza ainda apoderava-se dela, pois sabia que dali em diante uma grande luta seria travada. “Me apeguei muito em Deus nesse período. Sou de uma igreja evangélica e os próprios amigos de lá me ajudaram. Inclusive depois da cirurgia”.

Passado o processo cirúrgico do dia 3 de julho, Cláudia deu início ao acompanhamento quimioterápico. De 21 em 21 dias, ela faz sessões de quimioterapia. Nela os sintomas foram mais fortes do que na tia, e conta ter sentido náuseas, falta de apetite, dificuldade em tomar água, alterações no paladar e queda no cabelo – que optou raspar.

“Quando vejo tudo o que aconteceu, vejo que Deus preparou tudo. Eu ser diagnosticada em um dia e no outro poder fazer a cirurgia. E hoje eu creio que estou sem o câncer. Eu não falo que tenho o câncer. Eu falo que estou tratando. Mas pra mim eu não tenho mais câncer! Eu to fazendo a minha parte que é o tratamento. Porque depois que você começa a fazer tratamento você se sente mais confiante por estar tendo acompanhamento.”

Claudia continuará as quimioterapias até dezembro deste ano. Depois fará outra sessões de radioterapia e então não precisará mais deste tratamento.

Segundo dados do Inca, de 2011, o número de pessoas que morreram vítimas de câncer de mama foram 13.345, sendo 120 homens e 13.225 mulheres. Apesar das incidências em homens serem bem menores, elas existem.

Em Artur Nogueira, o caso foi vivido por um empresário da cidade, Neiton Oliveira.

Neiton Oliveira

Cancer de Mama

“A notícia caiu como uma bomba. No momento, eu pensei nas pessoas que eu amo, minha filha, minha esposa, minha mãe, meus irmãos e amigos. A minha geração cresceu com medo de tocar na palavra ‘câncer’. O termo sempre foi muito preocupante. Significava fim da vida.”

Oliveira tem 51 anos. Aos 48, foi diagnosticado com câncer de mama, segundo ele, “por obra de Deus”. É que dias antes de notar o caroço no peito, uma caixa que levava da loja que reformava à sua casa, caiu sobre ele, pressionando-o. Com o impacto um pequeno hematoma se formou no mamilo. Então buscou um médico.

Em conversa com um dermatologista, acreditou se tratar de uma coagulo sanguíneo, por isso o dermatologista lhe sugeriu outros especialista. No começo de setembro, passou por uma cirurgia, em Campinas, para retirar o carocinho – que era do tamanho de um grão de feijão. O médico mandou o caroço para a biópsia e, depois de 15 dias, veio o diagnóstico…Era câncer de mama.

“[Ao saber do resultado] liguei para a minha esposa e disse que eu estava doente e que precisaria ser tratado. Cheguei na casa da minha mãe e encontrei todos chorando, se questionando, o porquê que aquilo estava acontecendo comigo. Eu nunca tinha ouvido falar que câncer de mama poderia atingir os homens”, relata sobre como reagiu no momento.

Assim como os demais pacientes de câncer de mama, Oliveira também passou por séries de quimioterapia e cirurgia e assim que os cabelos passaram a cair, ele os raspou. “Quando meu primo Marcos Sia e meu irmão Neirival ficaram sabendo que eu tinha raspado correram e também rasparam a cabeça”, conta. “Tudo isso em solidariedade a mim.”

Após a cirurgia, feita em 2011, seguiu mais seis meses de tratamento que, de acordo com Oliveira, foi o período mais difícil.

Hoje, sem a mama direita e com uma cicatriz no peito, ele se diz feliz e orgulho, porque vê nessa marca, uma marca de vitória.  “Não tem guerreiro que ganhe uma luta sem ficar com uma cicatriz”, frisa.

Àqueles que passam pelo câncer, Oliveira diz:

“Tenha vontade de superar, tenha Deus no coração. O câncer é uma batalha pessoal, a família é essencial, mas a força está dentro de cada um. Depois disso, tenha tranquilidade, por mais difícil que seja. Serenidade. Porque desespero não vai ajudar em nada. O desespero é o combustível da doença. Você tem que acabar com a doença, não deixar a doença acabar com você.”


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