12/02/2017

Economista analisa situação de Artur Nogueira em 2017

Para Luiz Fernando Rosa, que é assessor técnico do Dieese, novo ano terá mais recessão econômica

Da redação

A crise econômica que atingiu o Brasil nos últimos anos lançou uma sombra sobre a perspectiva de crescimento do país. Altas taxas de desemprego, inflação e dívidas públicas fizeram de 2015 e 2016 anos de aperto financeiro para milhões de brasileiros. Em Artur Nogueira não foi diferente. Por aqui, até a Prefeitura sofre com as contas para pagar, acumulando um débito acima de R$ 60 milhões em dívidas.

Mas 2017 vai ser um ano melhor para a cidade ou podemos esperar mais dificuldades financeiras? O que os pequenos empresários podem fazer para driblar a crise? Como a nova administração municipal pode economizar sem deixar de investir?

Para responder a essas e outras perguntas, conversamos com o economista Luiz Fernando Alves Rosa, que é assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) junto à Federação da Saúde do Estado de São Paulo e  pós-graduando em economia do trabalho e sindicalismo pelo Instituto de Economia da Unicamp. Atua como consultor sindical e palestrante nas áreas de economia do trabalho, sindicalismo, sistemas de saúde e orçamento pessoal.

Segundo ele, a situação dos nogueirenses não vai melhorar muito em 2017. Confira a entrevista completa:

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A crise econômica que atingiu o Brasil nos últimos anos complicou a situação de famílias, empresas e governos. As coisas vão melhorar em 2017 ou podemos esperar mais um ano de recessão econômica?  Tudo indica que teremos mais um ano de recessão econômica, com muitos empregos destruídos. O Banco Central do Brasil (BACEN) espera, para 2017, um crescimento econômico de 0,5% e a previsão oficial do Ministério da Fazenda é um crescimento de 0,8%. Não obstante, os resultados reais têm ficado frequentemente abaixo da expectativa oficial. Minha opinião é de que teremos uma nova queda do Produto Interno Bruno (PIB) neste ano, entre 1,5% e 3%. Penso assim porque não há na conjuntura atual nenhum possível vetor de dinamismo econômico: a economia internacional está desaquecida e a China, principal destino de nossas exportações está reduzindo a velocidade de seu crescimento; o consumo das famílias está fragilizado pelo desemprego (ou medo do desemprego) e pelo endividamento; os investimentos empresariais estão deprimidos em virtude da baixa demanda da economia, juros altos e capacidade ociosa das plantas industriais e; as despesas do Governo Federal estão congeladas tanto pelo teto de despesas aprovado pelo Congresso Nacional, como pelo desequilíbrio das contas públicas. A aposta do Governo Federal para estimular a economia é o pacote de concessões de estradas, portos e aeroportos. A ideia é atrair investidores estrangeiros. Um dos muitos problemas dessa estratégia é a instabilidade política do país, que continuará operante em 2017, que afugenta investidores de projetos de “longo prazo” como os estruturais. Além disso, mesmo que as concessões se confirmem, há um interregno temporal entre a efetivação dos contratos e o início efetivo das obras, de modo que, se tudo der certo, os resultados só virão em 2018.


“Tudo indica que teremos mais um ano de recessão econômica”


Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), quase 50% das prefeituras do país fecharam 2016 com as contas no vermelho. Em Artur Nogueira não é diferente. A cidade enfrentou queda na arrecadação nos últimos anos, e o ex-prefeito Celso Capato afirmou que deixou o governo com dívidas a pagar. O que a nova gestão pode fazer para aliviar a crise no município? O grande problema é que quando o desempenho da economia cai, a arrecadação tributária cai com ainda mais intensidade. No caso dos municípios, as principais receitas próprias são o ISS (Imposto Sobre Serviços) e o IPTU. A arrecadação deste cai porque muitas famílias acabam não tendo como pagar e a daquele porquanto depende do dinamismo econômico, quanto menor a prestação de serviços, menor a arrecadação. O grande desafio da nova administração será reduzir as despesas sem reduzir a quantidade e a qualidade dos serviços prestados à população, além de, evidentemente, dar conta das promessas de campanha. Em linhas gerais, o que se pode fazer é tentar revisar o valor dos contratos da Prefeitura, alongar a dívida existente, reduzir despesas de custeio e o quadro de comissionados. Além disso, seria interessante investir (na medida do possível) em informatização e na reestruturação dos processos de trabalho de modo tornar os serviços prestados à população mais ágeis, menos burocráticos (evitando o retrabalho) e mais baratos. De qualquer modo, o desafio será imenso e exigirá muita competência técnica e vontade política da nova Administração.

Essas medidas podem pesar ainda mais no bolso do cidadão? Se a Administração Municipal enfrentar o problema dentro das diretrizes que citei não deve implicar maiores custos à população. Se cair na tentação de aumentar impostos e taxas haverá, por óbvio, maior custo para o cidadão. Não acredito que o faça, pois seria um tiro no pé.

Artur Nogueira possui mais de 1200 microempreendedores individuais, mas 2016 foi bem difícil para pequenos e microempresários. Além disso, o país perdeu mais de 1,4 milhão de trabalhadores autônomos. Em tempos de altos índices de desemprego no país, abrir um negócio próprio deixou de ser uma opção? O empreendedorismo não deixou de ser uma opção, mas sem dúvida ficou mais desafiador. Em tempos de normalidade econômica, a cada quatro novas empresas, três acabam quebrando nos primeiros dois anos. Sendo assim, nesse cenário de crise, para empreender planejamento é fundamental. É preciso fazer uma análise técnica do nicho em que se pretende empreender, mapeando a demanda potencial e os custos da operação. Se alguém tem uma boa ideia e alguma dose de coragem, empreender sempre será uma boa opção.

O que pequenos e microempresários podem fazer para driblar a crise enquanto a economia não melhora? Depende de cada caso, mas as palavras-chave são prudência e criatividade. Há que se tentar reduzir os custos e avaliar a possibilidade de mudar de nicho. No caso do Comércio, é fundamental adequar os produtos oferecidos à capacidade de consumo dos clientes. Além disso, investir na qualidade do atendimento é sempre uma boa ideia.

Há previsão de melhora no cenário econômico em 2017 para eles? Honestamente, estruturalmente falando, não acredito. Talvez surja alguma melhora se as taxas de juros caírem de maneira expressiva. É previsto que as taxas de juros comecem a cair neste ano, mas creio que a redução será a conta-gotas.


Se alguém tem uma boa ideia e alguma dose de coragem, empreender sempre será uma boa opção”


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Os 10 feriados prolongados previstos para 2017 devem gerar prejuízo de R$ 10,5 bilhões ao varejo nacional. O que você recomenda que os lojistas façam para lidar com isso e contornar as perdas? Essa questão é muito relativa. É válida para o conjunto da economia, mas não necessariamente para o caso individual. Depende do ramo e do tamanho da loja e depende também da relação de fidelidade que o lojista constrói com o cliente. É fundamental que cada lojista conheça bem o seu negócio e avalie, no caso concreto, se os feriados trarão impacto significativo. Em alguns casos, a depender do ramo de atuação e da legislação do Município é possível até mesmo abrir o comércio nos feriados. Nessa hipótese, contudo, é preciso fazer contas e verificar se o aumento das vendas compensará os custos adicionais, como, por exemplo, o trabalhista, que nesses casos tem hora extra de 100%.

Enquanto setores como comércio, construção civil, indústria e serviços tiveram queda no número de vagas formais em 2016, a agricultura teve alta. Artur Nogueira possui o segundo maior número de agricultores familiares na Região Metropolitana de Campinas (RMC). As perspectivas econômicas para eles são boas neste novo ano? Do ponto de vista do financiamento da produção, pelo menos a princípio, as linhas de crédito direcionadas à agricultura familiar estão mantidas. A grande incógnita é o comportamento do consumo, que deve ser menor. De qualquer modo, mais uma vez depende de cada caso, pois cada cultura agrícola terá desempenho diferente e depende de variáveis distintas. No que tange à agricultura familiar, em específico, há certa estabilidade da demanda, já que parte dos produtos da merenda escolar deve ser adquirida dos agricultores familiares do município. O grande ponto negativo previsto para 2017 é a reforma previdenciária que deve elevar as contribuições pagas pelos agricultores familiares.

O salário mínimo não teve aumento real pela primeira vez em 13 anos. O que as famílias podem fazer para aumentar a renda e passar o ano com mais dinheiro no bolso? Até este ano vigeu uma regra fixa segundo a qual o reajuste do salário mínimo era composto pela variação da inflação, medida pelo IPCA, acrescida do crescimento do PIB, quando houvesse. Em 2017, o Salário Mínimo foi corrigido apenas pela inflação porque não houve crescimento econômico. De todo modo, a aprovação da Emenda Constitucional que aprovou um teto para as despesas do Governo Federal significou o fim da política de valorização do Salário Mínimo. A regra implica que os gastos da União só podem ser reajustados pela inflação, o que se aplica também para o Salário Mínimo pelos próximos dez anos. Do ponto de vista das famílias, no curto prazo o que se pode fazer é cortar gastos e equilibrar o orçamento familiar. Não se deve gastar mais do que se ganha e é preferível evitar dividas e compras parcelas nesse ano. Muitas vezes não tem jeito, mas o ideal é ajustar o padrão de vida ao padrão de renda.


“Mais cedo ou mais tarde a economia do país vai melhorar”


Qual a dica que você dá aos nogueirenses para economizar este ano? Uma boa dica para economizar é anotar, seja em um caderno, seja em uma planilha ou em um aplicativo no celular, todas as despesas diárias. Assim, ao término do mês é possível identificar quais grupos de gastos podem ser reduzidos. Aí, evidentemente, entra a criatividade. A boa notícia é que a inflação está em processo de desaceleração, e, portanto, o custo de vida não deve aumentar tanto. No médio prazo, no entanto, a melhor estratégia é buscar mais profissionalização, que possibilite, num futuro não muito distante, um salário melhor ou as competências para abrir o próprio negócio. Essa profissionalização pode ser formal ou informal. Atualmente, desde que se tenha boa vontade e acesso à internet é possível encontrar inúmeras opções de cursos gratuitos de aperfeiçoamento. É fundamental que as pessoas compreendam que mais cedo ou mais tarde a economia do país vai melhorar. Entretanto, o resultado será um ambiente econômico e de trabalho muito mais disputado e competitivo, por isso qualificar-se, agora, é fundamental.

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