04/11/2014

Dobra percentual de mulheres na chefia das famílias nogueirenses

Em dez anos famílias com mulheres no comando passou de 15,4% para 32%

Por Isadora Stentzler

O número de mulheres que se tornou chefe de família dobrou em Artur Nogueira de 2000 para 2010. Segundo relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado na semana passada, nos anos 2000, 15,4% das famílias nogueirenses possuíam uma mulher como chefe de família, já em 2010 esse número alcançou a marca de 32%. Para a socióloga e militante feminista Daniele Rehling, o dado pode estar relacionado principalmente ao avanço do capitalismo.

O relatório que tomou como base o último censo também apontou a quantidade de mulheres em Artur Nogueira como chefes de família de acordo com a cor e a situação matrimonial. Conforme os dados, de 2000 para 2010 o número de famílias com mulheres brancas na chefia passou de 15,6% para 29,9%, enquanto o de famílias com mulheres pretas ou pardas disparou de 13,8% (2000) para 35,4% (2010), superando a média nacional que cresceu apenas 15,4 pontos nesse quesito.

Veja tabela completa

Famílias com chefia feminina

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De acordo com Daniele esse avanço tem a ver com uma série de fatores, sobretudo para atender as demandas do mercado. “O capitalismo entendeu que se as mulheres estivessem no mercado de trabalho se teria mais uma forma de intensificar a exploração dos seus trabalhos. Ou seja, se o capitalismo não tivesse propiciado esse avanço de incorporar as mulheres no mercado de trabalho elas continuariam reféns do espaço doméstico, então ele aproveitou-se da opressão de gênero para precarizar o trabalho feminino”, critica. “Mas o fato é que as mulheres atualmente são mais escolarizadas do que os homens. Essa pode ser uma primeira hipótese para essa transformação das mulheres em ‘chefes de família’.”

Daniele também fala que devido a uma construção social que foi “naturalizada” as mulheres possuem múltiplas capacidades e que isso as possibilita exercerem outras funções para além do espaço doméstico. No entanto, para ela, é difícil apontar este dado como positivo ou negativo já que não houve necessariamente uma substituição de responsabilidades no lar. Portanto, além da nova condição de trabalho, a mulher permanece com as funções domésticas, gerando um excesso de atividades. “Acho que a autonomia financeira das mulheres é central para, por exemplo, auxiliar na luta contra a violência doméstica. Mas se levarmos em conta que essas mulheres chefes de família desempenham dupla ou tripla jornada de trabalho, avalio como negativo. Então é muito relativo.”

É ela quem manda

Na casa da focal de linha de produção Waldirene da Silva, de 37 anos, é ela quem toma a frente. Moradora do bairro Jardim Planalto 2, Waldirene divide a casa com o marido, pedreiro, cinco filhos e uma neta. “E quem é a chefe da família sou eu”, frisa.

Durante a semana Waldirene sai de casa às 06h40 e viaja para Jaguariuna (a 32 km de Artur Nogueira), onde trabalha; às 18h volta a Artur Nogueira e pega uma Van para Limeira (33 km) – cidade em que faz faculdade de Pedagogia –, e só volta para casa perto da meia-noite. “E as vezes quando chego ainda tenho alguns afazeres de casa, mas normalmente quando saio já deixo uma lista na mesa dizendo o que precisa ser organizado.”

Segundo a nogueirense, ela ganha de R$ 200 a R$ 300 a mais do que o marido, mas já teve que tomar conta de todas as finanças quando o pedreiro ficou desempregado. “Foi um período difícil”, desabafa. Na família todos os filhos estudam, então o salário se divide entre as despesas da casa e também na escolarização das crianças.

Apesar de algumas dificuldades ela vê como positiva a ascensão da mulher. “A mulher está mais forte hoje, aguentando muito mais do que o homem”, enfatiza. “Então, acho uma boa a mulher tomar a frente.”


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