03/07/2015

Desabafo de um professor nogueirense

OPINIÃO: Sociólogo Luiz Rossi

Farei uma breve análise sobre o que realmente deve ser feito para salvar a educação e a saúde dos professores no Estado de São Paulo.

Todos os dias eles são cobrados e obrigados a elaborar planos de aulas mais complexos e suas aulas são assistidas por críticos que os avaliam. Planos e mais planos são testados sem nenhum efeito. São os professores, novamente obrigados a voltar para a prancheta e recriar o improvável baseados em orientações absurdas e sem fundamento. Pronto, vamos testar mais um e nada acontece. Novamente, excelentes profissionais são chamados de “incompetentes”. Sim! São culpados por não conseguir levar o conhecimento aos alunos.

Não há como levar o saber a quem não quer aprender. Não há como levar o saber a crianças e adolescentes desestruturados, física e mentalmente por problemas familiares, fome e drogas. Na escola atual o único material escolar que muitos levam é apenas o celular que se tornou uma febre sem limites. O governo instituiu a Lei nº. 12.730, de 11 de outubro de 2007 que diz:

Proíbe o uso telefone celular nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário de aula

Artigo 1º – Ficam os alunos proibidos de utilizar telefone celular nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário das aulas.

Artigo 2º – O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 90 (noventa) dias contados da data de sua publicação.

Para que serve uma lei sem punição? Como vamos cumpri-la sem saber o que fazer depois. Tente você retirar um celular de um aluno!

Não há como tentar ensinar quem só vem para a escola para extravasar suas emoções e conquistar garotas, depredar o patrimônio público e o de seus colegas ou vender drogas.

Os professores convivem em sala de aulas com facas, estiletes, soco inglês, canivetes, palavrões e atos obsenos que não condizem com o ambiente escolar. Professores e funcionários convivem com seus pertences sendo furtados dentro das salas de aulas e da escola sem ao menos poder fazer um Boletim de Ocorrência com medo de represálias de alguns alunos.

Os materiais escolares que são fornecidos aos alunos são jogados no lixo na primeira oportunidade. Eles não querem mais fazer nada em sala de aula, muitos só querem demonstrar poder e intimidar a todos. É um ambiente escroto e sem lógica onde os profissionais tem que conviver todos os dias. E ainda eles tem que ouvir que se não estão contentes que mudem de profissão.

Embora estes aguentem desaforos e descasos, sei que não vão abandonar essa causa tão nobre e que se prepararam e escolheram para suas vidas. Eles estão aguentando ainda, em virtude de alguns poucos alunos que querem ter seu futuro escrito em melhores caminhos. Ficarão e insistirão ainda na profissão que escolheram, por amar a lousa e os livros. Amam e tentam encontrar cada dia mais força para ajudar os alunos que compensam os seus desgastes e lágrimas.

Os profissionais da educação não precisam de planos mirabolantes e cursos de capacitação. Já são capazes e muito bem preparados com o que já tem na bagagem. É preciso que o estado retire a venda dos olhos e pare de jogar o problema embaixo do tapete e continuar a esconder esta vergonha que está a escola pública. Precisam sim, que os órgãos oficiais do estado deixem de ouvir ideias de alguns pensadores e fazedores de gráficos e venham ouvir quem verdadeiramente sabe a real situação, os guerreiros professores.

Precisam que o estado, além de não conhecedor de causa, envie assistentes sociais, psicólogos, policiamento e um apoio mais completo e retire esta progressão continuada que uma mente não compatível ao nosso sistema trouxe de algum país de “primeiro mundo”.

Senadores, deputados e governadores não estão nem ai para a realidade e muitos deles ano que vem vão lembrar de vocês pedindo seu valoroso voto e depois continuarão com a situação precária na segunda casa de seu filho que é a escola.

Escola depredada, largada nas mãos de pobres diretores que tem que se virar nos 30 para escorar as paredes com varas para que não caiam em suas cabeças.

Duvido que esta coluna será lida por algum deputado, senador, governador ou autoridade com alguma boa vontade para solucionar este problema que cresce cada dia mais. Se for, que venha procurar-me para que eu mostre a realidade dos professores, coordenadores, diretores, pessoal da limpeza, secretárias (os), inspetores de alunos, gerentes de escola e nossas cozinheiras.

Falo aqui, acredito eu, em nome de todos os profissionais da educação.

Duvido que algum assessor do senhor governador, tomará ciência de minha coluna e nos procure para qualquer providência.

Só peço um favor, se algum representante eleito pelo povo se interessar em vir, não mande assessores, venha pessoalmente. Vocês tiveram a coragem de pedir meu voto cara a cara, então venha cara a cara mostrar seu valor e vontade de resolver esse enorme problema.

Vamos torcer para que algo aconteça e que mudem a realidade das escolas e que se vierem, que não seja mais uma foto postada no Facebook desta autoridade. Se quiserem fotos, que a façam depois que tudo o que estou relatando tome realmente um rumo favorável.

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luiz rossi
Luiz Augusto Rossi
é sociólogo e professor em Artur Nogueira


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