24/06/2017

Derrubada de árvores revela problemas de planejamento em Artur Nogueira

Vários exemplares de Ficus benjamina, plantados há anos na cidade, causaram estragos em calçadas, ruas e até fundações de construções

Alysson Huf

A derrubada de algumas grandes árvores em um terreno baldio próximo ao antigo Posto Xanfra chamou a atenção dos nogueirenses na semana passada. As altas e imponentes plantas, conhecidas pelo porte robusto e pela vasta sombra que proporcionam, vieram ao chão em poucas horas. Seus galhos e folhas, porém, eram tão numerosos que demoraram dias para serem todos transportados.

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A ação de derrubar as imensas árvores gerou comentários na internet, em páginas frequentadas por moradores de Artur Nogueira. Afinal, como poderiam cortar uma parte tão importante da paisagem local? A questão, no entanto, revela um aspecto importante do desenvolvimento da cidade: problemas de planejamento urbanístico.

Nativa do sudeste asiático, a Ficus benjamina, essa imensa árvore de troncos grossos e copas frondosas que são comuns em calçadas e canteiros de cidades de todo o Brasil, pode ser um grande problema para a infraestrutura do município. Apesar da beleza e da convidativa sombra, a espécie é conhecida por causar sérios estragos em calçadas e ruas próximas das quais foi plantada.

As tubulações subterrâneas também são alvos das fortes raízes dela, que podem alcançar dezenas de metros de extensão e afetar até a fundação de edificações. “O plantio dessa espécie é recomendado somente em jardins extensos e fazendas”, afirma a Secretaria de Meio Ambiente de Artur Nogueira por meio da Assessoria de Comunicação da Prefeitura.

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“O plantio dela não é recomendado para cidades e áreas urbanizadas, por causa de seu porte e de problemas que suas raízes podem causar nas edificações, pavimentação e tubulações de água, esgoto e energia”, explica a Secretaria. Segundo o departamento, a solicitação e a retirada das árvores próximo ao Posto Xanfra foram feitas pelo proprietário do terreno, que é particular.

A equipe do Portal Nogueirense procurou o proprietário do terreno, mas ele preferiu não se pronunciar sobre o assunto. Apesar disso, foi possível perceber no local que as raízes das árvores já estavam causando estrados na guia do asfalto.

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Planejamento

Quem anda pelas ruas de Artur Nogueira percebe que não são poucos os exemplares de Ficus plantados ao longo de toda a cidade. O canteiro que fica entre a Rua Adhemar de Barros e a Rua Duque de Caxias, onde antigamente passava o trilho do trem, é um dos pontos com maior incidência da espécie. As árvores neste local alcançam dezenas de metros de altura e produzem uma sombra muito bem-vinda para motoristas, pedestres e nogueirenses que frequentam a Feira Livre de domingo.

A larga escala do plantio de Ficus pelas ruas da cidade, contudo, revela que a inserção dessas plantas na paisagem nogueirense foi realizada sem uma correta análise dos efeitos disso a longo prazo. Para a arquiteta e urbanista Gabrielle Guedes, o plantio da espécie é um erro de planejamento. “Por quê? Porque não se chama um especialista antes de plantar”, afirma.

De acordo com ela, a culpa não é da árvore. “Ela vai crescer naturalmente da forma que ela é; essa é a natureza dela. O erro está na gestão de quando foi escolhida essa planta”, comenta. “Mas se você tem um planejamento e planta a árvore num lugar adequado, ela não vai criar problema, nunca”, enfatiza.

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João Becker, engenheiro ambiental, também considera o plantio do Ficus em Artur Nogueira um problema de planejamento, mas atribui isso às circunstâncias da época em que o plantio foi realizado. “Isso aconteceu porque antigamente não se tinha esse estudo, esse planejamento de qual árvore que deve ser plantada em cada localidade”, explica.

Gabrielle conta como o problema pode ser evitado. “É tudo uma questão de planejar corretamente, analisar os locais onde serão instalados postes, onde serão feitas calçadas, para escolher a planta adequada”, analisa. De acordo com Becker, o ideal é evitar plantas com raízes muito longas. “Como o ypê e o manacá, cujas raízes são mais curtas”, recomenda.

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Risco de queda

Além de todos os problemas já mencionados, outro ponto que gera preocupação é o risco que o Ficus tem de cair sob ação intensa de chuva e vento. Em Artur Nogueira, quase todo ano as chuvas de verão causam estragos pela cidade, sobretudo nas árvores de grande porte. Embora não seja comum uma Ficus cair por inteiro sob um vendaval, há vários relatos de galhos, inclusive grande, que caem durante tempestades.

Em março deste ano, uma pancada de chuva causou destruição em vários pontos da cidade. Segundo a Defesa Civil do município, 40 árvores caíram (completa ou parcialmente) em diversos bairros. Como consequências dessas quedas, o abastecimento de energia e de água foi temporariamente afetado, e as marcas do vendaval podem ser vistas até hoje.

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