15/04/2015

‘Corredor das Onças’ começa a ser implantado em mata de Artur Nogueira

Trecho deve unir unidades de conservação de Santa Genebra e Cosmópolis. Cerca de 30 espécies de mamíferos serão beneficiadas.

Por Isadora Stentzler

O Corredor das Onças que deve unir as Áreas de Relevante Interesse Ecológico (Arie) do Matão de Cosmópolis à Arie da Mata de Santa Genebra, em Campinas, já está sendo implantado nas terras da Usina Ester, na divisa entre Artur Nogueira e Cosmópolis. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) já foram plantadas mais de 100 mil mudas no espaço, mas ainda não há previsão do término.

O projeto teve início em 2008, mas foi há pouco que o grupo conseguiu recursos de compensação ambiental para viabilizar a implantação. De acordo com a analista Ambiental, Márcia Gonçalves Rodrigues, do ICMBio, estes recursos devem ser usados para o plano de manejo do Matão.

O Corredor se trata da conexão de trechos de floresta por meio da implantação de novas florestas. Esses corredores permitem que animais se desloquem por áreas maiores, sem sair do seu habitat natural, o que traz mais segurança a eles e aos seres humanos.

A conexão entre as duas Aries será viabilizada pelas matas ciliares dos cursos d’água que nascem nas unidades de conservação e deságuam em dois grandes rios da região: o Rio Pirapitingui – que deságua no Rio Jaguari, no caso da Arie Matão de Cosmópolis –,  o Rio das Pedras – que deságua no Ribeirão das Cabras – e o Rio Atibaia –  no caso da Arie Santa Genebra.

Márcia frisa que agora o projeto segue com parcerias entre os produtores e donos de terras das regiões por onde deve passar o Corredor. “Estamos cadastrando empreendedores interessados em compensar os seus empreendimentos em pequenas propriedades rurais, para desonerar os pequenos proprietários de fazer a restauração de suas nascentes e APPs [Áreas de Preservação permanente”, explica. “É um trabalho de formiguinha, mas juntos chegaremos lá”.

Com o corredor o número de animais em locais urbanos deve diminuir. Uma vez que o seu habitat será ampliado a busca por alimentos e água ficará limitada ao espaço natural, diminuindo a procura desses recursos em outras áreas.

Matão 

A Arie Matão de Cosmópolis possui 173,55 hectares (ha) de mata, sendo que deste total 36% está localizado em Artur Nogueira e 64% em Cosmópolis.

Segundo a analista da ICMBio, esse espaço é de grande relevância para o município, o que inclui não apenas o cuidado com a flora e a fauna, mas com a vida humana também. “A Arie Matão funciona como um refúgio”, comenta. “Além de melhorar o clima local, a floresta permite que a água da chuva penetre no solo recarregando os mananciais. Ela protege duas nascentes, protege os polinizadores da região – pois sem os polinizadores o homem não produz alimentos – e serve de fonte de dispersão das espécies para outras áreas que já perderam diversidade de vida”.

Outros aspectos apontados por Márcia dizem respeito à Umidade Relativa do Ar e ao ciclo de chuvas, que se altera devido a quantidade de florestas de um local. No que se refere ao Matão, a analista frisa que o custo de tratamento da qualidade da água, que vem de florestas, pode chegar a até menos de 5% do valor de tratamento da água oriunda de locais ocupados pelo ser humano. “Uma floresta fornece um ar de melhor qualidade (pois as árvores filtram boa parte dos poluentes atmosféricos), diminui a temperatura local, melhora a umidade do ar, além de fornecer outros serviços ambientais. Por exemplo: você sabia que os morcegos são insetívoros e que um único morcego pode comer cerca de 300 mosquitos numa noite? Assim, pode ajudar até no controle da dengue”, reforça Márcia.

A Arie Matão de Cosmópolis foi criada no Brasil em 1985, sendo a primeira unidade a ser instalada no país. Naquela época já se sabia que os recursos naturais estavam em risco nesta região devido ao desenvolvimento local e se optou por prevenir e proteger a flora e a fauna, sobretudo as espécies em extinção.

Em todo o Estado de São Paulo existem quatro Aries, um Parque Ecológico, quatro Florestas Nacionais e três Estações Ecológicas cuidados e monitorados pelo Instituto Chico Mendes. Os espaços têm funções diferentes, mas visam o cuidado e manutenção das espécies.

De acordo com o inventário de mamíferos de médio e grande porte na Área Piloto I Corredor das Onças, foram flagrados no Árie de Cosmópolis 27 espécies diferentes de mamíferos. Estão na lista gambá, cuica-d’água-pequena, tatu-galinha, tatu-peba, tatu-de-rabo-mole, tapiti, lebre-europeia, macaco-prego, cachorro-do-mato, cachorro doméstico, lobo-guará, jaguatirica, gato-maracajá, gato-do-mato-pequeno, gato-mourisco, onça-parda, mão-pelada, furão-pequeno, irara, lontra, veado-monteiro, veado-catingueiro, serelepe, capivara, paca e ouriço-caixeiro.

000006070013 1 DSCN0165 DSC01036 DSC_0009 DSC_0005Fotos: ICMBio

A coleta de dados foi feita de setembro de 2011 a agosto de 2012 e levou em conta reconhecimento visual, pegadas e fezes de felinos e canídeos.

Segundo Márcia, os animais que estão no local são remanescentes da região. “São o que existia antes da alteração/degradação feita pelo homem branco”, enfatiza. Infelizmente muitas das placas no local contém marcas de tiros, o que sinaliza o descaso de alguns com o espaço.

“Hoje, com o cenário de mudanças climáticas globais, e com a extrema seca que o Estado de São Paulo viveu no ano passado, é fundamental proteger cada pedacinho de mata que nos sobrou porque este pedacinho servirá de semente para reflorestar outras áreas”, conclui Márcia.


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