28/05/2017

Coordenadora da Casa do Caminho comenta desafios da instituição em Artur Nogueira

Deolinda Marco também relembrou surgimento da instituição, que completa 27 anos na próxima semana

Da redação

Na próxima sexta-feira (2), a Casa do Caminho realizará mais uma edição do Casa Aberta, um evento que abre as portas da entidade para que a população conheça o belo trabalho desenvolvido pela instituição. O programa serve também para comemorar o aniversário da Casa, que completa 27 anos no dia 5 de junho.

Desde sua fundação, em 1990, a entidade, localizada no Bairro Bela Vista, oferece várias atividades, cursos e oficinas gratuitas para a população. Artesanato, Teatro, Informática, Karatê, Música, Balé, Corte e Costura são alguns dos cursos oferecidos. No entanto, um dos maiores aprendizados de quem passa pelo local é o amor e exemplo transmitidos pela senhora Deolinda Marchiore Marco.

Uma das fundadoras da instituição, Deolinda nasceu em uma pequena vila chamada Lusitânia, hoje distrito de Jaboticabal (SP). Formou-se no magistério e começou a dar aulas. Devido ao trabalho do marido em um banco, se mudou para Artur Nogueira e nunca mais saiu do município ‘Berço da Amizade’. Mãe de cinco filhos, Deolinda se dedica todos os dias em ajudar ao próximo.

Aos 72 anos de idade, ela continua incansável em seus esforços para ajudar crianças, jovens e adultos da cidade. Por telefone, Deolinda concedeu esta entrevista ao Portal Nogueirense, contanto um pouco da história da Casa do Caminho e dos principais desafios da entidade em 2017.

Confira a entrevista na íntegra:

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Como surgiu a ideia de criar a Casa do Caminho? Eu participava de um grupo no centro espírita com algumas outras mulheres. Pouco antes dos anos 1990, esse grupo foi convidado pelo então prefeito Ederaldo Rossetti a participar do Arraiá do Pé Queimado, uma tradicional festa que acontecia aqui em Artur Nogueira. O centro espírita, assim como outros grupos, aceitou o convite e montou uma barraca de salgados no recinto. Em um dos dias que estávamos lá trabalhando, fomos surpreendidos com a presença de uma criança. Uma menina de aproximadamente cinco anos de idade apareceu em nossa barraca usando apenas uma calcinha. Era mês de setembro e fazia muito frio. Ficamos comovidos com a cena e decidimos levá-la até o Centro Espírita. Mais tarde descobriríamos que a menina tinha perdido a mãe, e o pai havia acabado de se casar com outra mulher. Com mais três irmãos, a madrasta não cuidava da menina. Levamos ela, demos comida, banho e novas roupas. Depois de alguns dias, outras crianças também apareceram em nosso centro. Precisávamos fazer alguma coisa por elas. Artur Nogueira vivia uma realidade um pouco diferente. Ainda não existia o Conselho Tutelar.

E como a instituição foi montada? A Casa do Caminho surgiu após uma conversa que tive com uma amiga, Adelaide. Juntas, compramos um terreno no Jardim Bela Vista para a construção da instituição. Após algum tempo, sugeriram a Adelaide para entrar em contato com o prefeito Ederaldo Rossetti para tentarmos apoio da Prefeitura. Marcamos uma reunião e obtivemos uma grande conquista. O prefeito nos cedeu por um período de cem anos o nosso atual terreno. Eu e a Adelaide vendemos a área que tínhamos comprado e com o dinheiro compramos o material para construirmos parte da instituição. E foi assim que, no dia 5 de junho de 1990, nasceu a Casa do Caminho.

Como era no começo? Antigamente, aqui no Jardim Bela Vista era tudo plantação de laranja. As crianças vinham para cá e faziam várias atividades, como desenhos, artesanatos e brincadeiras. Lembro-me que por muitas vezes tivemos até que fazer as matrículas das crianças nas escolas.

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De onde surgiu o nome Casa do Caminho? É bíblico. Após a partida de Jesus, os apóstolos começaram os ensinamentos. Existia um caminho onde havia uma casa em que os apóstolos acolhiam os rejeitados, os leprosos, doentes. Foi com base nessa passagem que nos inspiramos. Criamos uma instituição para ajudar aqueles que precisam, que estão carentes de uma mão amiga. Fico feliz quando vejo que alguém saiu melhor do que quando entrou aqui.

E como a instituição se mantém hoje? Então, hoje nós atendemos crianças, alguns adultos e jovens. Até ano passado, a Petrobrás ainda nos ajudava financeiramente, mas parou. Este ano nós estamos tentando continuar sem essa ajuda. Temos uma subvenção de cinco salários mínimos da Prefeitura. Além disso, fazemos campanhas também, vendemos coisas, fazemos bazar, aceitamos doações. Por enquanto está dando certo. Estamos vendo como vai ser. Ainda conseguimos manter as atividades.

Quais os maiores desafios da instituição hoje? Olha, estamos pensando em visitar indústrias da cidade e ver se elas podem adotar algum “oficineiro” da Casa, mantendo esses monitores e professores. Porque é muito caro a manutenção do local e dos profissionais. Já fazemos muitas coisas, mas dá para melhorar bastante. E a gente gostaria muito de trabalhar com os jovens. Então estamos oferendo algumas atividades já para eles, preparando eles para o mercado de trabalho. E estamos de portas abertas para quem quiser nos ajudar. Além disso, o nosso maior desafio é continuar a transmitir essa mensagem de que podemos mudar o mundo. E, se não o mundo, pelo menos o lugar em que vivemos. E isso por meio do amor. É isso que vivemos na Casa do Caminho.

O que mudou na Casa do Caminho nesses 27 anos de história? Olha, houve muito progresso. As pessoas trabalham lá com muito amor. Há muita união entre as pessoas. E o trabalho com amor é muito melhor que o remunerado. E é bom quando você se encontra com pessoas que passaram por lá, pela sua vida, e que recordam da casa, falam com carinho do lugar. E até os filhos deles voltam para frequentar a Casa. Então nós sempre renovamos as pessoas, mas somos sempre próximos. Como uma grande família. E lá já passaram muitas, muitas pessoas, que hoje são formadas, bem-sucedidas e que voltam para ser voluntários lá.

E o que você sente ao ver a instituição fazendo a diferença há quase três décadas? Olha, eu sempre gostei muito da Casa e do nosso trabalho na instituição. Quando a gente faz algo com amor, é diferente. Sempre alguém passa pela Casa do Caminho, seja para receber, seja para doar, essa pessoa tem a vida transformada. E Deus sempre nos ajuda. A Casa do Caminho é um lugar muito abençoado.

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O que te motiva a se manter tão empenhada com a instituição mesmo aos 72 anos? Eu recebo mais do que dou. Não em dinheiro, mas em amor e carinho. É uma luta, cheia de barreiras a serem vencidas, mas isso faz parte da vida. Não tem idade. E se a gente parar, não temos mais o que fazer da vida. Então eu acho que, enquanto estamos lutando e trabalhando, continuamos com força para viver. E, como eu disse, eu recebo mais do que dou.

Qual o objetivo da Casa Aberta, que vocês vão realizar na próxima sexta-feira (2)? Olha, a gente tem feito esse evento para as pessoas conhecerem a atividade da Casa do Caminho. Então a população é convidada a ir e conferir tudo o que oferecemos às crianças, como as aulas de violão, de artes, e outros mais. São várias coisas. Convido a população da cidade a comparecer na Casa Aberta.

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