25/06/2015

Conheça cinco estrangeiros que escolheram Artur Nogueira para viver

Dia do Imigrante: a busca por uma cidade tranquila, com qualidade de vida e longe da correria dos grandes centros, é o que atrai esses estrangeiros ao ‘Berço da Amizade’.

Por Diego Faria

A presença de imigrantes em Artur Nogueira é marcante. A maior parte chega à procura de melhor qualidade de vida e de um ritmo diário mais tranquilo. A busca por uma cidade menor, visando mais segurança e novas oportunidades, são fatores não menos importantes. Em homenagem ao ‘Dia do Imigrante’, comemorado nesta quinta-feira, 25 de junho, o Portal Nogueirense conversou com personagens que trazem para Artur Nogueira uma miscigenação cultural, enriquecem os valores da cidade e oferecem uma bagagem multiétnica de costumes e tradições ao município.

Alemanha

Aurélio Sinchi Barrios Koch, tem 40 anos e nasceu em Hamburgo, Alemanha. Descendente de pai boliviano e mãe alemã, ele vive em Artur Nogueira há aproximadamente quatro anos. Aurélio trabalha como designer gráfico e modelagem em 3D. Ele se formou na profissão em 2002, na Academie füt Gestaltung HTK, em Hamburgo. Já trabalhou para companhias de jogos eletrônicos como ‘OOTP Developments’, ‘Sports Interactive’ e para a ‘SEGA’, em Londres, e ‘SEGA Studio Japão’, onde permaneceu por cinco anos. Também passou por outros estúdios independentes, tendo participação nos conceitos de visual de jogos eletrônicos. Aurélio lembra de um fato curioso em relação aos seus primeiros trabalhos. “Comecei num projeto novo, que era o ‘Football Manager Live’, o primeiro ‘MMO’ (Massively Multiplayer Online Game) para aficionados por futebol. Lembro que todos na companhia ficaram viciados neste jogo, porém não fez muito sucesso no mercado”, declara.

Aurélio já conheceu em média 18 países e domina cinco idiomas, entre eles o inglês, alemão, espanhol, português, francês, e está se aperfeiçoando no idioma holandês.

O que atraiu Aurélio ao se mudar para o Brasil, mais especificamente Artur Nogueira, segundo ele, foi a busca por um lugar mais tranquilo para viver. Após se casar com a brasileira Rose Proença Barrios, e ter o primeiro filho, Aaron, de quatro anos, o casal decidiu morar em uma cidade menor, com mais qualidade de vida.

Aurélio com o filho Aron e a esposa Rose
Aurélio com o filho Aaron e a esposa Rose

Após conhecerem o município, tiveram certeza de que o melhor lugar seria aqui.

“O que me trouxe para Artur Nogueira, é o que muitas pessoas chamariam de destino, mas a razão verdadeira, foi o nascimento do meu filho Aaron. Acredito que uma criança se desenvolve melhor num lugar tranquilo e simples como aqui. Ele vai ter toda a vida para estudar, visitar escolas e universidades mas, enquanto é pequeno, ele tem que conhecer as coisas mais essenciais, que seriam a origem da vida, encontrada na natureza, o carinho e suporte da família. Isso lhe será um fundamento para a vida toda. ”, afirma.

Para Aurélio, a cidade de Artur Nogueira é tranquila e organizada. A Lagoa dos Pássaros é o local onde a família gosta de caminhar e aproveitar as horas de lazer. “Me sinto muito bem em Artur Nogueira, o clima de cidade pequena é justamente o que procurávamos”, completa.

O alemão diz que nesses quatro anos em que vive no município, tem visto muito progresso. Ao seu ver, o comércio é variado, mas ainda pode se expandir, se unido às áreas arborizadas e de lazer familiar que existem na cidade. Apesar de Artur Nogueira ser pequena, Aurélio afirma que isso não limita o trabalho desenvolvido por ele.

“Eu trabalho como autônomo, então o fato da cidade ser pequena não me limita. Desenvolvo trabalhos gráficos e a internet é minha principal ferramenta, ela me dá bastante liberdade em minha profissão. Também tenho bastante contatos aqui, isso me dá estabilidade, mesmo em uma cidade menor” declara.

Aurélio em seu ambiente de trabalho
Aurélio em seu ambiente de trabalho

Quando questionado sobre alguma curiosidade da cidade ou dos moradores, Aurélio cita o Carnaval de Artur Nogueira. O fato de homens se vestirem de mulher, e mulheres se vestirem de homem, segundo ele, é diferente e engraçado. “O que me chamou a atenção logo que cheguei foi o Carnaval. Nunca tinha visto algo assim, é engraçado, homens e mulheres trocando os seus papéis, achei curioso”, afirma

Aurélio diz que sua família e alguns amigos já visitaram Artur Nogueira, e da mesma forma, gostaram do clima e do movimento da cidade. Ele ainda acrescenta que recomenda a cidade para quem busca viver em um lugar mais junto à natureza, unido à um estilo de vida mais simples e pacato.

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Uruguai

José Osvaldo Rijo Acciari (Zé Uruguaio), de 65 anos, é nascido e criado em Minas, uma pequena cidade do interior do Uruguai. Acciari, que já trabalhou em sua adolescência como feirante, exerce a profissão de mecânico há aproximadamente 50 anos. Ele se formou nesta área na Universidade do Trabalho do Uruguai (UTU) e desde lá não deixou mais a atividade, de forma que os dois filhos, Fernando Henrique, de 35 anos, e Frederico, de 33 anos, seguiram os caminhos do pai e hoje trabalham juntos na oficina mecânica da família, na Rua Ademar de Barros, no Centro de Artur Nogueira. Já a filha Mariana, de 34 anos, mora em Campinas.

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Acciari com os filhos em sua oficina

Esse simpático sul americano não esconde o sorriso. Com simpatia, ele contou um pouco sobre sua trajetória e vinda para o Brasil, em especial, para as terras nogueirenses.

Aos 31 anos, descontente com o cenário político de ditadura existente em seu país de origem, resolveu respirar novos ares e embarcou primeiro para a cidade de Salto, onde um tio, por parte de mãe, já morava. De lá ele morou em Holambra, Mococa, e posteriormente, se instalou em Artur Nogueira.

No Uruguai, mais precisamente em Minas, ele conta que havia aproximadamente a mesma quantidade de habitantes que a atual cidade, 60 mil pessoas. Na época em que morava lá, o país passava por um golpe militar, instalado por Juan María Bordaberry. Esse foi o principal motivo que o trouxe em 1981 para o solo brasileiro, pois “o Uruguai mudou da água para o vinho. Era o país que tinha a maior democracia na América; não havia presidencialismo, no governo eram nove pessoas, um sistema chamado de colegiado,” explica.

O entrevistado conta que com a chegada do golpe em 1973, muita coisa mudou. Dos três milhões de habitantes do país, aproximadamente 400 mil eram soldados militares. “Eu não cheguei a ser preso ou torturado por que não me envolvia com a oposição, mas nas ruas havia a agressão visual, com muitos carros e tanques militares. Já do outro lado eu via muita gente passando fome, isso me revoltava,” afirma. O entrevistado ainda relata que teve amigos conterrâneos perseguidos pelo regime por envolvimento na luta armada. Entre os maiores opositores a ditadura, conta ele, estavam José Mojica e Tabaré Ramón Vázquez. “O golpe teve fim em 1985, mas eu pensei que fosse durar mais, por isso quis sair de lá,” relata.

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Acciari acredita que Artur Nogueira manteve a sua essência até os dias de hoje. “Ao chegar, não haviam muitos comércios”, afirma ele, “mas o clima é o mesmo”. Com a chegada dele em 1986, muita coisa estava sendo construída, como a Lagoa dos Pássaros, que se tornou o principal cartão postal da cidade. “Eu imagino que a infraestrutura, as escolas e os hospitais estão evoluindo. O comércio inclusive se tornou um dos mais conhecidos da região,” observa. O ramo industrial se mostra em progresso, isso é um importante diferencial aos olhos de Acciari.

Ele ainda diz que se sente realizado em viver em Artur Nogueira, cidade que o acolheu e ofereceu estrutura de vida. Ao viajar para o Uruguai, conta que sente saudade da rotina pacata nogueirense, e não pensa em se mudar do município.

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Angola

Ngunza Mayelle Timóteo, de 39 anos, é natural de Luanda, capital da Angola. Casado com Miriana Cesalina, Timóteo tem três filhos, Jovane de sete anos, Alex de dez, e a menina Dorcas de treze. Ele conta que veio para Artur Nogueira há aproximadamente um ano em uma missão de evangelização e ministra há seis meses um trabalho missionário na Igreja Assembleia de Deus, no Jardim Egydio Tagliari, próximo ao INSS. Há 20 anos convertido ao cristianismo, e há 13 atuando como pastor, ele conta que sentiu Deus lhe mandando vir para o Brasil com o designo de pregar o evangelho. Ele deixou parentes, amigos, casa e ainda três igrejas que liderava na Angola.

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“Eu ouvi a voz de Deus me ordenando para que eu deixasse a Angola e viesse para o Brasil. E naquela revelação, foi dito que eu deveria vir para o estado de São Paulo”, diz com orgulho.

Na Angola ele trabalhou por cinco anos garimpando diamantes que eram vendidos para toda a Europa. “Nós escavávamos e dividíamos com o governo. Vendíamos para revendedores e casas de exportação. Sei muito bem identificar um diamante falso de um verdadeiro”, diz convicto. Timóteo domina quatro idiomas, português, francês e outros dois idiomas africanos, lingala e kikongo.

Timóteo soma um ano e meio seguindo o ministério, onde há seis meses lidera uma igreja no Jardim Egydio Tagliari. “Esse ministério acolheu toda a minha família, está sendo uma benção para nós”, afirma.

Quando chegou no estado de São Paulo, desembarcou na Capital e ficou surpreso com o tamanho da cidade. “Eu fiquei com medo de ter que criar meus filhos numa cidade daquele tamanho. Em São Paulo tem muita violência. Mas graças a Deus, quando eu cheguei em Artur Nogueira, vi que era uma cidade tranquila, ideal para viver com a família. É bem diferente do Brasil que é mostrado na TV”, desabafa.

Quando indagado sobre o que lhe surpreende na cidade, o Angolano diz que é o povo, por ser muito receptivo e acolhedor. “Quando a gente chegou aqui, fomos atendidos por pessoas que inclusive não são da igreja. Católicos, evangélicos, adventistas, todos receberam à nós com muito carinho. O povo brasileiro parece ser cristão por natureza. Em tudo o que falam, mencionam, ‘Deus o abençoe’”, acrescenta e sorri.

O missionário diz sentir saudade dos familiares e amigos que estão na Angola, mas tem a missão evangelística como um ‘trabalho de tropa’, como ele se refere. “O trabalho de Deus é um trabalho de tropa, quando a ordem vem, você deve cumprir. Como uma ordem militar”.

Ele diz sentir falta de alguns pratos que costumava comer na Angola, como kizaka (feito de folha de mandioca), o turturo (parecido com o cogumelo) e o fumbua (folha igual a couve, acrescentando o amendoim).

Timóteo com sua família
Timóteo com sua família

A entrevista termina em clima de amizade. Sorrisos, saudações e agradecimentos completaram um diálogo divertido, curioso e simples, de uma família que carrega as mesmas qualidades.

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China

Huang Xianjing, tem 41 anos e é natural de Tainsan. Com jeito tímido e reservado ele começa a responder à entrevista um tanto quanto acanhado. Ele é casado e tem duas filhas gêmeas, de dez meses, que vivem com os avôs na China. O comerciante conta que a rotina de trabalho é muito corrida e por isso as filhas permaneceram na China, até que estejam com idade apropriada para atravessar o mundo em direção ao Brasil.

Ele mora neste país há 21 anos, e em Artur Nogueira há aproximadamente seis. Aqui administra uma pastelaria na Avenida Fernando Arens. “Eu já conheço Artur Nogueira há 15 anos. Sempre gostei daqui. Já vão fazer seis anos que tenho a pastelaria aqui na cidade”, afirma com sotaque oriental. Na pastelaria de Huang são servidos salgados, bebidas e outros tipos de refeições feitas por eles mesmos. Ao todo são cinco pessoas trabalhando no estabelecimento.

Xianjing em sua pastelaria
Huang em sua pastelaria

O chinês diz que escolheu a cidade para viver e trabalhar por que é tranquila e organizada. “As pessoas são legais, são simples. A cidade também é muito bonita. Gosto da Lagoa dos Pássaros, mas não saiu muito, tenho muito trabalho”, declara. Há todo tempo Huang está fazendo alguma coisa. Ele para a entrevista para atender um cliente, o telefone ou devolver o troco.

Huang diz que a cidade melhorou bastante desde que a conheceu há 15 anos atrás. “Chegaram muitas fábricas e indústrias, isso valoriza a cidade e traz mais emprego”, avalia. “A comida daqui é boa também, gosto da variedade de frutas, saladas, legumes e da picanha”, completa em risos com a atendente que ajudava na tradução durante a entrevista.

“O movimento do comércio está um pouco fraco”, diz Huang, mas entende que existem épocas do ano que são assim mesmo. Completa que está contente com o ponto que administra, no Centro, onde o movimento de pessoas acontece o dia todo. Também afirma que sente saudades do país de origem, principalmente das filhas recém-nascidas e dos familiares que ficaram por lá.

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Holanda

Anja Hofstengee, de 44 anos, é natural de Emmen, cidade localizada no nordeste da Holanda. Filha de pai holandês e mãe iugoslava, tem um irmão e uma irmã por parte de mãe, Goran, de 48 anos e Slavica, de 50. Anja viajou por diferentes países a procura de novas experiências. Dona de um espírito aventureiro, ela chegou ao Brasil em 1994 e mora em Artur Nogueira há 25 anos. Já conheceu estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e a região de Artur Nogueira como Jaguariúna e Holambra. A princípio tinha a ideia de ficar no nordeste, mas escolheu o ‘berço da amizade’ para morar. “Eu saí da Holanda para viver outras culturas”, afirma.

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Há 18 anos ela mora com o brasileiro Reinaldo Carmona, de 47 anos. Ele é caminhoneiro e trabalha no setor de transportes. Em 2014 ela fez um tour na companhia do marido e de alguns amigos a bordo de dois motor homes e passaram por oito países como Portugal, Holanda, Bélgica, França, Suíça, Áustria, Itália e Alemanha.

A holandesa é empresária do ramo de equipamentos para granjas desde 2012, com representatividade em todo o país e na América Latina como Argentina e Venezuela. O primeiro emprego dela na região de Artur Nogueira foi como secretária executiva em uma empresa holandesa, situada em Holambra.

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Antes de sair do país de origem aos 24 anos, Anja se formou em pós-graduação em administração de empresas pela Universidade MBO College, na Holanda e trabalhou em setores de administração, além de ter sido secretária executiva e funcionária pública. Ela já viajou por países da Ásia como Indonésia e Malásia. Na América do Sul, Anja conheceu o Paraguai, Uruguai, Argentina e toda a Europa. “Eu não conseguia ficar parada, então viajava muito. Até hoje sou assim, mas um pouco mais calma”, relata. Aos finais de semana Anja gostava de se reunir com os amigos em restaurantes, frequentava casas noturnas, festivais de música e cassinos. “Aquela época era boa demais”, ressalta.

Casa onde Anja foi Criada em Emmen, Holanda
Casa onde Anja foi criada em Emmen, Holanda

Como hobby, Anja gosta de cozinhar. Nas ocasiões em que vai para a Holanda, o que mais traz na bagagem são temperos e molhos que ela não abre mão de ter em casa. “Quando estou lá gosto de ir ao supermercado”, lembra. A música é outra paixão de Anja. Ela canta desde os 14 anos. Quando morava na Holanda fazia apresentações em bares, restaurantes e festivais com um repertório de country americano, pop rock e hard rock. Tem como ídolos os cantores Freddie Mercury, Tina Turner e Phil Collins.

Ela relata que ao chegar no Brasil se acostumou rápido com a cultura e com os costumes. O idioma também não foi problema, em três meses ela já havia aprendido o básico do português através de aulas particulares. “Eu sou da seguinte opinião: quer ficar no país? Primeira coisa, entenda a cultura. Em segundo, aprenda o idioma”, relata.

Os pais de Anja costumavam visitá-la a cada dois anos. Após a morte da mãe de Anja em 2004, vítima de câncer linfático, o pai se mudou para Artur Nogueira há seis anos. Ela conta que desde que chegou em Artur Nogueira muita coisa mudou. A infraestrutura, a segurança, os empregos e comércios tem crescido cada vez mais. A empresária acredita que são pontos positivos, mas que deixaram reflexos negativos em relação a tradicionalidade da cidade. “Na Avenida Fernando Arens, em 20 anos, as faixadas se modernizaram e o número de lojas aumentou. Eu gosto da arquitetura, que está sumindo, é uma pena”, lamenta. Anja diz que é necessário preservar o aspecto arquitetônico e os pontos turísticos do município como, por exemplo, o Balneário Municipal, que antigamente tinha um aspecto de praia. Segundo ela, esses fatores mostram a identidade do município. “Naquela época o movimento também era mais tranquilo pelo fato de não haverem muitos carros nas ruas”, afirmab

Dois eventos a marcaram quando já havia chegado ao Brasil, a morte de Airton Senna e a Copa de 1994. “Como o povo chorou. Nunca tinha visto isso. Aquilo me marcou. O povo brasileiro é muito emocional”, ressalta.

Anja não pensa em voltar para a Holanda, se mostra convicta em permanecer em Artur Nogueira. “Gosto de ir para lá nas férias e sinto um alívio em pensar que logo vou voltar para casa”, conclui. Ela diz que conquistou muitos amigos e desde o primeiro dia que chegou no município, já se sentiu muito bem. “Me sinto no berço da amizade mesmo”, completa. Ela conta que o povo nogueirense é muito acolhedor e receptivo. Na Holanda, de acordo com ela, é preciso marcar horário para sair com os amigos, por aqui basta fazer o convite.


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