19/03/2017

Conheça a moradora de Artur Nogueira que cria 50 ratos em casa

Marta Grecco conta que eles são perfeitos para se criar em casa: limpos, livres de doenças e muito carinhosos

Alysson Huf/Misael Florêncio

Marta Grecco cria, no quintal de casa, quatro cachorros, seis gatos, dois patos e duas galinhas. Se você é uma dessas pessoas que sente calafrios só de imaginar todos esses animais juntos no fundo de casa, imagine até se deparar com os 50 ratos que ela também cria na residência. Sim, ratos. Para ser mais exato, Rattus norvegicus: as famosas ratazanas. “Não é aquele rato de telhado ou camundongo. É completamente diferente”, explica a criadora.

Mas calma, esse não é um daqueles cenários bizarros em que os ratos pesteados tomaram conta da casa e espalham o terror pela vizinhança. A residência de Marta, localizada no Jardim Resek, é muito limpa, organizada e, claro, bem grande. Há espaço suficiente no quintal para todos os gatos, cachorros ou aves. Para que os ratinhos não tenham problemas com as outras espécies, são criados dentro de gaiolas perfeitamente adaptadas. E a vizinhança toda vive em paz.

Ah, e as ratazanas não foram encontradas no esgoto, ok? Elas foram compradas em pet shops e lojas especializadas. Algumas são fruto de doação, e outras, até de importação. Há matrizes que vieram de Portugal, Estados Unidos e Alemanha. Marta faz parte de um grupo chamado Rattaria Brasil, composto por milhares de criadores de ratos no país. Na página do grupo no Facebook, há informações preciosas para quem deseja saber como se cuida desses animais.

Nesta entrevista ao Portal Nogueirense, a zootecnista explica como se interessou por criar ratos e desmistifica os pobres animaizinhos, que são tão aptos à domesticação que chegam a atender pelo nome, como qualquer gato ou cachorro. Então relaxe, confira nossa conversa com a Marta e se prepare para se apaixonar por esses ratinhos:

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Como você se interessou por criar ratos em casa? Eu sempre tive animais comuns, como gato e cachorro. Mas, há três anos atrás, minha filha mais nova tinha um apartamento pequenininho e queria um pet que pudesse ficar num espaço reduzido. Uma amiga de apartamento tinha um hamster, só que, para ela, esse era um animalzinho muito comum. Ela queria um diferente, mas que pudesse ficar em casa sem incomodar ninguém. Daí ela falou: ‘ah, quero um rato!’ Então foi até uma agropecuária e comprou uma ratinha branca, dessas de laboratório. Daí comprou uma gaiola comum de passarinho e foi pesquisar como alimentar a ratinha. Só que, no final de semana seguinte, ela teve que viajar e não podia levar a ratinha com ela. Então deixou ela comigo. E eu pensei: ‘Meu Deus, como vou cuidar disso? Na faculdade, a gente não vê como cuidar de um animalzinho assim. Daí fui pesquisar na internet e achei muita coisa. Vi que a ratinha precisava de uma gaiola maior, de uma ração e que precisava de companhia, pois ratos vivem em colônia. E eu me apeguei àquele bichinho tão amoroso. Ele ficava no meu colo. Ele pede carinho e, ao mesmo tempo, te dá um carinho. E ele fica no teu ombro como se fosse um passarinho e te faz companhia. Aí eu gostei disso.

E o que você fez depois de se apaixonar pelos ratinhos? Depois eu fui atrás de onde poderia comprar ratinhos para mim. Daí achei em uns pet shops, comprei uma gaiola maior, pesquisei mais. Quando minha filha chegou, eu já tinha conseguido companhia para a ratinha dela e sabia mais sobre criar esses animais do que ela. Isso em uma semana. Quando eu vi, já estava comprando outro e outro e outro e, de repente, eu tinha uma gaiola grande, com cinco animais dentro. Eu tinha um machinho com quatro fêmeas. Por bobeira minha, deixei ele cobrir as fêmeas. Daqui a pouco, cada uma das quatro fêmeas tinha 10 filhotes, ou seja, eu tinha 50 bichinhos. E como eu ia cuidar disso se eu não sabia nada de reprodução? Daí eu fui estudar mais. Fui procurar grupos, até mesmo no Facebook, de pessoas que sabiam bastante sobre isso para me ajudar. Então eu cheguei à conclusão de que, se eu quisesse mesmo cuidar desses animais, precisaria conversar com pessoas que entendessem deles. Foi quando eu descobri o Rattaria Brasil. Daí eu fiquei sabendo nesse grupo que o ratinho que eu tinha era um ratinho comum do Brasil e usado em experimentos. Só havia sido dada uma pequena melhorada genética nele, o que alterou a cor dele. Aí descobri que o administrador desse grupo é um rapaz do Rio de Janeiro e que havia importado alguns ratos de Portugal. Ele recebeu algumas matrizes e começou a reproduzir e trabalhar a genética deles, e vi que ele tinha ratos muito diferentes dos que eu tinha e dos que existem no Brasil. Depois de conversarmos, ele aceitou visitar minha criação. Ele me explicou como cuidar dos bichinhos, e, a cada ano, eu monto gaiolas diferentes. Eu mesmo construí algumas gaiolas. Porque eu descobri que não existem gaiolas feitas para ratos exclusivamente, então você acaba mesclando elas.

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E a alimentação? Eu vi que alguns davam alimentação natural para eles, outros davam uma ração para animais de laboratório. E percebi que precisávamos desenvolver uma ração própria para ratos. Então eu estudei mais o assunto, e é a minha área (nutrição animal), e desenvolvi uma formulação. Procurei uma fábrica de rações que já trabalhasse com rações pet. Fui até Rio Claro (SP), numa fábrica chamada Biotron, e apresentei a fórmula. Eles aceitaram produzir a ração a nível experimental, e distribuí para alguns criadores. Usamos por alguns meses, e deu certo. Hoje ela é vendida para o Brasil inteiro. Uma ração própria para ratos.

Qual a raça dos ratos que você cria? Na verdade, eles são ratazanas. O nome é Rattus norvegicus, que é a ratazana que você encontra por aí. Não é aquele rato de telhado ou camundongo. É completamente diferente. E como eles vivem em colônia, não podem ser mantidos sozinhos, se não eles ficam doentes. Eu só deixo eles separados dos companheiros quando estão em período de reprodução. Daí as ratinhas que dão filhotes precisam ficar sozinhas com a prole delas. Eles também têm uma hierarquia na colônia. Tem aquele que manda, e os outros obedecem. Eu também montei uma gaiola para os mais velhos, já que eles são mais tranquilo e não gostam de bagunça. Como possuem hábitos noturnos, eles passam o dia dormindo. De noite que é a bagunça.

Quais as maiores dificuldades ao se cuidar de 50 ratazanas? Primeiro é o custo da alimentação. Como eu desenvolvi a ração deles, consigo bons descontos da fábrica. Mas é uma ração com preço dessas rações de gato e cachorro. E como os ratos são onívoros, comem de tudo, a ração é composta de vegetais e produtos animais. Essa parte animal é composta de ovo. Não usamos carne na ração. Além disso, é preciso cuidar com as gaiolas. Elas precisam ter uma dimensão certa. Em nosso grupo, o Rattaria, temos uma calculadora que dá a dimensão necessária da gaiola para se criar determinado número de ratos. Eles também gostam de brincar e dormir em rede, então a gaiola precisa de redes ou, como eu fiz, tubos. Ele é roedor. Então ele vai roer e destruir tudo. Esse é o hábito dele. É natural deles roer, não tem nada a ver com crescimento dos dentes. Então eles podem ficar dentro de casa, mas é preciso cuidar, pois eles vão roer fios e roupas se não forem vigiados. Ele também gosta de entrar em buracos e ficar escondido. Mas, se você chamar, ele vem no seu pé.

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E como você chama eles? Cada um tem um nome. Mas como eu tenho muitos, não lembro o nome de todos. Mas, por exemplo, as duas ratinhas da minha filha estão aqui. É a Lola e a outra… já esqueci o nome [risos]. Então, quando minha filha está com elas, é só chamar pelo nome e a ratinha vem. Ela chama “Lola!”, e a Lola vai até o pé dela. Mas sobre os cuidados, tem que estar sempre de olho na água, que precisa estar sempre limpa, sendo sempre trocada. E as gaiolas também. Elas são limpas todo dia. E outra: a gente tem que acabar com essa história de que rato é sujo, é nojento e traz doença. Isso seria para um rato de esgoto, já que ele vive num ambiente sujo, na nossa sujeira. Por isso ele se contamina. Mas no ambiente dele, na mata, ele não é sujo. Esses aqui, como vieram de locais higienizados, são livres de doenças. O que a gente cuida é de sempre fazer um remédio para verme, pois, assim como nós podemos ter vermes, eles também. De resto, eles se limpam sempre. Você pega ele na mão, e depois ele vai e se limpa. Ele quer o cheiro dele, não o seu. Quem quiser, pode dar um banhinho neles. Às vezes eles ficam gripados, assim como a gente. Então, se nós estivermos gripados, não é bom ficarmos perto deles porque podemos transmitir a virose para os animais. O problema maior deles é a gripe. E um rato, quando fica doente, morre muito rápido.

E você já perdeu muitos ratos? Eu perdi um porque ele, enquanto brincava na gaiola, acabou se machucando. Deu um hematoma muito grande, e ele acabou morrendo pelo hematoma. Eles morrem muito rápido quando se machucam assim se você não acudir. Ele se machucou durante a noite, e eu só vi de manhã. Daí, quando o encontrei, levei no veterinário, mas não havia muito o que pudesse ser feito. Mas, normalmente, as mortes acontecem por idade. Quando eles estão velhos, adquirem tumores. Não é câncer, mas os tumores crescem e comprometem alguns órgãos. Isso pela idade. Mas, mesmo que isso não aconteça, eles morrem naturalmente. Se você passa dos 100 anos, o corpo cansa. Com eles é a mesma coisa. Um rato vive de três a quatro anos. Um rato de três anos seria uma pessoa de 90 anos. Com seis meses de vida, eles já estão entrando na vida adulta, prontos para reprodução.

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E você acaba se apegando a eles, mesmo sendo muitos? Ah sim. Quando um morre, eu choro. Minha filha também. Sempre que um fica doente, a gente corre. Temos três veterinários que nos ajudam sempre. E a gente cria eles sempre com muita observação. Criamos em gaiolas separadas de macho e de fêmea. E por idades também. Tem gaiola dos mais novos, dos adultos e dos mais velhos. Nesse nosso grupo lá do Rio de Janeiro, cujo idealizador é o Maicon Meireles, nós fizemos as principais linhagens de ratos que são criados no Brasil. Isso porque o Maicon importou espécies de Portugal, Estados Unidos e Alemanha. E nós fazemos estudos de observação nessas linhagens, de comportamento, de alimentação, de reprodução, de vivência em grupo.

Você cria vários outros animais, incluindo gatos. Como eles convivem com toda essa diversidade? Bom, eu não deixo os cachorros entrarem aqui na área, pois eles podem vir, fazer um agrado na sua frente, e atacar os bichinhos quando você virar as costas. Eu não deixo porque não confio. E também não gosto que os animis tenham contato com outros por causa de doenças, de contaminação. Tem gente que deixa. Eu não deixo porque eu tenho reprodutores, e é preciso o máximo de cuidado com eles. Já os gatos, eles têm medo dos ratos.

Medo? Sim! Porque quando o gato chega perto da gaiola, o rato ataca. A gaiola é a casa do rato, é o ambiente dele, então ele defende o território e ataca quem não conhece. Do gato, ele não gosta. Então os gatos respeitam e nem mexem com eles. E as aves nem vêm aqui. Elas não têm acesso.

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Como as pessoas reagiram quando você contou que estava criando ratos em casa? É, elas falam: ‘Nossa, que loucura! Como você dá conta?’. Eu me viro. Eu trabalho. Mesmo aposentada, trabalho com assessoria de nutrição animal. Nos dias que não estou em casa, meu marido me ajuda. E todo dia leva cerca de duas horas para cuidar de todos os bichinhos. E não é só alimentar; tem que pegar eles, dar carinho, se relacionar. Tem que ter interação com eles. E eu não abro mão deles por nada. Eles não são interesseiros como os gatos. Você adota ele como seu, e ele te adota também. É muito recíproco. Eu vejo que, geralmente, quem tem os ratos como pet são pessoas que se sentem meio marginalizadas. Eu já me senti assim. Isso quando eu fiz minhas tatuagens, montei a loja Skate Rock Brasil e vivia no meio da molecada do skate. Daí os outros me viam com aquele olhar de desprezo, sabe? E tinha os piercings também. Então foi um momento em que eu me senti marginalizada. Foi talvez por isso que eu me apeguei ao rato. Porque ele também é diferente, não é aceito pela sociedade. E nós queremos desmistificar isso. Ele não é marginal, ele é limpo, não é fedido, nem doente. E, para se ter dentro de casa, é o melhor animal.

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