10/02/2013

Arthur Nogueira ou Artur Nogueira? Qual é o correto?

Você já deve ter notado que o nome da cidade de Artur Nogueira aparece escrito com “h” em algumas situações. Na réplica da estação ferroviária, encontramos o nome “Arthur Nogueira”. O que isso significa? Qual é o correto? Com ou sem “h”? Veja o que pensa um especialista no assunto.

Qual é a importância de um nome?

Por Milton L. Torres, PhD

Em Romeu e Julieta, Shakespeare perguntou: “Qual é a importância de um nome?” E ele mesmo respondeu: “Uma rosa teria o mesmo cheiro, mesmo que tivesse outro nome”. No entanto, todos nós cedemos aos apelos de nomes como Gucci, Prada, Louis Vuitton e Rolex. Não importa o que Shakespeare disse, o que importa é o benefício líquido e certo de ostentarmos essas marcas.

Foi o acordo ortográfico de 1943 que eliminou o h de várias palavras comumente usadas na língua portuguesa. Esta letra só foi mantida no início de palavras cuja etimologia o justificasse, nos dígrafos ch, lh e nh, nos compostos com hífen e em interjeições. Parece que os brasileiros ficaram felizes com a mudança, pois houve dois outros acordos posteriores (1971 e 1990) e a letra jamais retornou ao lugar de onde foi tirada.

Com o acordo ortográfico, veio a resistência dos cartórios em registrar antropônimos (isto é, nomes de pessoa) que não se enquadrassem na novo ortografia. Assim, o h após outras consoantes foi lentamente sendo eliminado do repertório de nomes à disposição dos brasileiros. Obviamente, o h permaneceu no caso de quem já tinha nome com h nessas condições. Os topônimos (isto é, nomes de lugares) não tiveram a mesma sorte. Eles foram imediatamente adequados à nova regra ortográfica. Theresópolis, no Rio de Janeiro, passou a ser Teresópolis (sem h!). Theóphilo Ottoni, em Minas Gerais, tornou-se Teófilo Otoni (sem h!). Apesar da mudança, os habitantes dessas cidades não parecem demonstrar qualquer trauma em relação à perda de letra de tão bom pedigree. De fato, os habitantes de Teófilo Otoni teriam toda a razão de ficar de luto por um bom tempo, pois, com a reforma ortográfica, o nome de sua cidade perdeu três letras no total.

O recente caso da suposta mudança de nome da capital da China pertence a uma categoria completamente diferente de problema. De fato, não houve mudança. O nome da capital da China tem sido Beijing por um longo tempo. No entanto, o mundo ocidental pronunciava o nome dessa importante cidade como Peking. Desde 1949, quando o governo chinês adotou uma forma oficial de transliteração, esforços foram envidados para corrigir a distorção. Porém, isso só foi conseguido recentemente por causa da crescente importância econômica daquele país. Muitos chineses nem sabem que o resto do mundo pronunciava o nome de sua capital de forma equivocada.

Grafar o nome Arthur Nogueira com “th” poderia ter conotações negativas para a imagem da cidade. Em primeiro lugar, poderia sugerir imperialismo cultural e distanciamento da realidade brasileira, já que, nos Estados Unidos, é assim que se grafa esse nome. Em segundo lugar, poderia sugerir atraso cultural, evocando um retorno ao tempo em que também se escrevia farmácia com “ph”. Finalmente, poderia sugerir que os responsáveis pelas políticas públicas da cidade estão mais preocupados com questiúnculas do que ocupados com os problemas que verdadeiramente atormentam a população da cidade e que, por isso, merecem sua urgente atenção.

O que a rosa de Shakespeare sugere é que não é a ortografia que conta, mas a força de um nome associado ao prestígio que ele evoca, sendo capaz de nos cativar de forma absolutamente irresistível. Gostamos de uma marca não por causa da forma como ela é escrita, mas por causa da qualidade que aprendemos a associar a seus produtos. Talvez o que os habitantes de Artur Nogueira queiram mudar não seja a ortografia do nome de sua cidade, mas o nível de competência associado com a imagem que a cidade tem na mídia, no comércio e na indústria. Aliás, Artur Nogueira não tem qualquer razão para demonstrar baixa autoestima em relação a seu nome. A enérgica simpatia de gente que trabalha com empenho durante o dia, mas que também tira tempo para visualizar seus sonhos e aspirações, já garante que o perfume da rosa de Shakespeare faça parte da essência e do coração de seu povo. A que mais se pode aspirar, além disso?

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Milton L. Torres
Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo UNASP

Mestre em Linguística pela UFBA

Mestre em Letras Clássicas pela Universidade do Texas, em Austin

PhD em Arqueologia Clássica pela Universidade do Texas, em Austin
Pós-doutor em Estudos Literários pela UFMG
Membro do Conselho Consultivo das revistas Protestantismo em Revista e Formadores: Vivências e Estudos

Acesse o meu blog em: miltntorres.multiply.com


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