24/10/2015

Coletivo ModTrip se destaca na produção de iniciativas culturais em Artur Nogueira

ENTREVISTA DA SEMANA: “Entendemos que compartilhar as experiências, vivências e conhecimento universitário com a comunidade, em Artur, é de um valor inestimável, e literalmente abrimos a porta da casa para iniciativas culturais”.

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Um coletivo cultural criado em Artur Nogueira tem dado o que falar. A iniciativa surge a partir de uma fusão de ideias geradas por estudantes de várias partes do país e do mundo, que entenderam as novas possibilidades de conexão entre arte, comunicação e consciência coletiva. Estes elementos fazem parte da essência do que é a ModTrip House, interpretado pelos integrantes como um “laboratório de iniciativas sustentáveis”.

O grupo já realizou dezenas de atividades no município desde a sua criação, no início de 2014. De lá para cá, uma série de atividades elaboradas pelo grupo passou integrar a agenda cultural da cidade. Atualmente a ModTrip trabalha com a série “Em defesa da família tradicional brasileira”, em que desconstrói estereótipos e conceitos padronizados sobre a família tradicional. Participaram desta entrevista Icaro Mota, estudante de Sistemas para Internet , Cley Medeiros, estudante de Jornalismo, ambos do UNASP, Daniela Zoli, professora de Inglês, formada em Letras pela UNICAMP e Bruna Janini, estudante de Artes Visuais da FAAL. No entanto, hoje o coletivo conta com mais de 15 colaboradores diretos que contribuem para o fortalecimento das pautas levantadas pelo grupo.

O que é o coletivo ModTrip? [Icaro Mota] É uma casa coletiva que funciona como laboratório de iniciativas sustentáveis. A primeira experiência foi no Jardim Arrivabene. Durante um ano várias atividades culturais fizeram parte das ações promovidas pelos integrantes, a casa até então, república universitária, se tornou ponto de encontro após o contato com artistas independentes da cidade, como o rapper FD3 e o artista Vinicius dos Anjos. O nome ModTrip surge de uma conversa na frente da primeira casa, durante a primeira semana de ocupação do espaço. Mod, em inglês abreviado significa “modo”, e “trip”, viagem.

Cada um de vocês veio de um lugar. Como surgiu esta parceria? [Icaro Mota] A casa iniciou como uma república de universitários. Norte, sul, centro oeste, nordeste e sudeste do Brasil, representados, além de Cabo Verde. Entendemos que compartilhar as experiências, vivências e conhecimento universitário com a comunidade, em Artur, é de um valor inestimável, e literalmente abrimos a porta da casa para iniciativas culturais.

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Qual a proposta do coletivo e o que querem deixar para Artur Nogueira? [Cley Medeiros] Propomos entender a cidade como espaço coletivo, onde todos somos responsáveis pela construção, manutenção e transformação dela. Artur Nogueira é uma cidade com potencial a se perder de vista. Acreditamos que a comunidade, em Artur, pode desencadear processos de transformação social que possibilitem surgir novas experiências de leitura do mundo, a partir da cultura e do debate permanente com a sociedade sobre temas que atingem, diretamente, a população.

Este mês vocês estão com atividades em prol da “família tradicional brasileira”, que vocês apontam como sendo a indígena. Por que trazer esta pauta para Artur Nogueira desta forma? [Cley Medeiros] O saber indígena sobre a vida e a relação que os seres humanos têm entre si, com a natureza e com o transcendente tem muito a nos dizer, e a partir de um evento cultural essa linguagem, muitas vezes abstrata, se torna bastante clara, num poema, numa música, ou simplesmente numa conversa. Os eventos que fazem parte da série tem essa característica, proporcionar uma leitura abrangente sobre o olhar indígena e a reflexão sobre a velocidade que tem sido a nossa, aqui em Artur, longe da floresta.

Quais outras bandeiras vocês apoiam? [Icaro Mota] Diversas questões tem pautado a raiz das ações promovidas pelo coletivo. A democratização dos meios de comunicação, e do acesso à cultura, além da defesa dos direitos humanos, dos animais, e o apoio a iniciativas populares da cidade, principalmente as da juventude, é o que tem fortalecido as ações da casa.

As atividades de vocês movimentam uma gama de artistas da cidade. Gostaria de saber como surge este contato e se estão abertos para a inserção de novos. [Bruna Janini] Os contatos são feitos de boca a boca, por se tratar de uma cidade pequena é comum artistas conhecerem outros artistas. Aí se faz toda essa rede. Estamos sempre abertos a novos artistas, inclusive desde a primeira edição do sarau sempre contamos com um novo artista daqui ou de outra cidade e isso é muito gratificante, pois nossas ações tem movimentado pessoas de fora a vir até Artur Nogueira.

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Desde que vocês surgiram já realizaram N atividades em Artur Nogueira. As últimas foram a exibição do filme “O Acre existe” e um sarau. Qual a agenda das próximas semanas? [Daniela Zoli] No dia 29, quinta feira, acontece o Let’s Talk na casa. É uma proposta informal de conversação em inglês. É a primeira vez que algo do tipo acontece na cidade. Durante o Let’s talk uma receita típica do Halloween será feita pelos participantes. O mês de novembro conta com o lançamento da exposição KRAHO, no dia 07, e no dia 21 o chá filosófico, oportunidade pra juventude debater a vida do país. Outros eventos também estão programados até o fim do ano.

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Artur Nogueira é uma cidade pequena, mesmo assim vocês promovem debates de cunho nacional e entre a juventude. Fazem parte de algum partido político? [Bruna Janini] Não, a ModTrip é um coletivo que se organiza de forma independente, sem forças partidárias, no entanto, as (os) integrantes são livres para expressarem suas vontades políticas, tornando possível desenvolver processos coletivos de ocupação dos espaços sociais da cidade. A participação na vida nacional também oxigena os processos locais que envolvem cultura e juventude.

Vamos falar sobre a descriminalização da maconha. Acredita que as pessoas se baseiam nos seus preconceitos quando falam sobre o assunto? [Cley Medeiros] Sim, mas a maconha não é única no rol de preconceitos, que de maneira geral foram bastante fortalecidos nos últimos anos pela chamada “Guerra às drogas”, e a intensa campanha de demonização nos meios de comunicação gerou uma desinformação geral sobre o tema. Mas em vários lugares do mundo a descriminalização já é uma realidade, e o uso medicinal da erva é garantido por lei. O fim da guerra às drogas nesses países tem gerado mais informações sobre a cannabis, facilitando o fim do preconceito com a planta e transformando a realidade social local. Imagina um mundo sem preconceito, como seria?

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Como vê Artur Nogueira dentro desse debate? [Cley Medeiros] Artur Nogueira é uma cidade capaz de conduzir um debate maduro sobre temas que envolvem a juventude, como a descriminalização da maconha, por exemplo, e o acesso dessa juventude a informações sobre redução de danos, por quê é evidente que a guerra às drogas conseguiu globalizar os efeitos nocivos que é uma guerra. Imagina usar a polícia para fiscalizar uma planta? A nítida diferença entre tráfico e uso pessoal não é clara, ainda, para as forças de segurança, mas a sociedade civil, de maneira geral, tem se mobilizado para colocar o assunto na mesa e debater, porque do jeito que está o tráfico só tem aumentado e é cada vez mais cedo a entrada de “aviões” no comércio ilegal de drogas, em Artur Nogueira, infelizmente, isso ainda é realidade.

E em relação ao espaço da mulher? A cidade ainda é muito machista? O que poderia ser feito para combater isso? [Bruna Janini] Infelizmente na cidade e em todos outros lugares ainda somos vítimas do machismo. Para combater, sinceramente não sei o que pode ser feito. Mas para diminuir essas situações podemos como um coletivo mostrar/conscientizar através de palestras, oficinas de autodefesa, bate papos entre mulheres, etc. Ações para entender mais sobre a história da mulher na sociedade. Apesar dessa proposta coletiva sabemos que a reação/recepção do machismo diferencia de mulher para mulher. Mas vale a proposta de tema para as próximas agendas do coletivo.

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Neste sábado (24), à tarde, vocês farão um Sarau na pista de skate. Gostaria de reforçar o convite para a população de Artur Nogueira? [Daniela Zoli] O Sarau Mehin é o encontro de artes integradas que, além de ser palco para mais de 15 artistas independentes da região, é a oportunidade para uma leitura mais abrangente da cultura alternativa em Artur Nogueira. Quem for poderá também saborear pratos veganos e sucos supernaturais.


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